"..esta angustia como um pó muito fino; você não vê ele, mas ele vai caindo, entrando na sua boca, olhos, ouvido, você começa a se mexer pra afastar aquilo, mas parece que a verdadeira relação com ele, não é algo que acontece com você, ou entra como uma brecha na sua alma. Ele é parte de você." George Bernanus
As pessoas desta sociedade pós-moderna, através de um simulacro cultural, costumam temer a crise, assalto, terrorismo e doenças. Vivendo atrás de grades e câmeras de vídeo.
Mas da onde será que veio o medo?
Temos mais medo hoje, ou o homem sempre foi esse animal atormentado?
Compartilho da visão do filósofo Luis Felipe Ponde (palestrante do café filosófico) quando diz que o ser humano é um animal que morre de medo, e tem razão mesmo neste medo. Você não sabe da onde veio, não sabe pra onde vai, não sabe por que esta aqui, de vez em quando você tem sinais leves, mas não sabe se são verdadeiros.
Se agarra a coisas para poder passar da hora em que acorda até a hora em que vai dormir. Com a idade, o tempo, os problemas aumentam - há razão para ter medo.
O medo não foi inventado por algum vírus, ou terrorismo.
Pretendo abordar o medo como experiência ancestral, utilizando da teoria da seleção natural, do naturalista e biólogo Charles Darwin, e a teoria da negação da morte do antropólogo Ernest Becker:
Vou citar uma história para iniciar a analise:
- Imagine que você possa passear pelo espaço e tempo no Universo. Possa ir pra qualquer lugar. Agora foque no planeta Terra. Vá até a costa da África. Observe um grupo de humanos, caminhando em um tempo de calor muito grande. Agora foque em uma criança berrando, tentando segurar a mão de uma menina, que por inércia segura a sua mão. Esta mesma menina pisa na cabeça de um velho, que tivera caído de tanto calor e desnutrição. Instintivamente a menina pega um verme na areia e o engole. Ao lado dela um homem totalmente perdido, com medo e fome e achando que escuta vozes. Na frente dele uma mulher com um feto em sua barriga que não se mexe mais. Essa mulher sente muita dor, cai de joelhos no chão, olha pra cima, e lá em cima tem uma espécie de criador cego com os olhos vermelhos ejetados de sangue olhando para ela. E esses são nossos patriarcas. E são deles que agente descende. Este é o Universo iluminado pela Teoria Darwinista.
Se este grupo esta sobrevivendo até agora, é por que eles foram bem sucedidos num mundo agressivo. A seleção natural esta operando no clímax quando isto acontece.
Este é o mundo em que vivemos. Um mundo onde você pode ser comido a qualquer hora – fazemos parte da cadeia alimentar. Embora os tempos sejam outros, nada disso mudou. Talvez seja tudo mais civilizado em termos mais reais comparados com nossos ancestrais, no entanto continua tão selvagem quanto, e até mais em outros aspectos, tanto psicológicos quando físicos – a civilidade é só uma máscara.
Caminhando junto com estes fatos e conclusões, Becker, inspirado no Freud e Otto Rank, fala sobre o conceito da mentira caracteriológica, chamado também de Mentira Salvadora.
Está ideia esta ligada ao Conceito de Repressão.
Segundo Becker, nós devemos gastar energias psíquicas enormes, para conseguirmos viver a cada dia, não sendo atormentado pela consciência de que a qualquer momento pode dar errado.
Becker indica que isso deve ocorrer no fundo no nosso psiquismo e devemos possuir um mecanismo para manter a estrutura funcionando para garantir que essa consciência não venha à tona. Por que se isso vier à tona a demanda que você tem dessa consciência com certeza desabará e não possibilitará a vontade de sobrevivência e no menor, diminuirá as possibilidades de reprodução. E como Darwin descobriu com a “lei” da seleção natural e Richard Dawkins transcreveu muito bem em “O gene Egoísta”, isso vai contra a vontade de sobreviver do nosso verdadeiro Criador – o nosso gene.
Estaríamos paralisados diante deste pânico, sem esta estrutura de repressão inconsciente (também pode ser sinonimo de fisiológica, funcionamento natural do animal que somos)
VOLTANDO AOS NOSSOS PATRIARCAS:
Este pânico deve estar embutido em nossas experiências de adaptação:
O antropólogo, totalmente embasado na teoria Darwiniana, aponta que quem conseguiu mentir melhor sobreviveu, quem ficou paralisado diante do terror da existência não reproduziu e assim diante da teoria de Darwin não se adaptou (não transmitiu seus memes, ou seja, sua cultura experienciada).
Aqueles que sobreviveram foram os que conseguiram esquecer que (talvez) o principal afeto (a principal percepção) do ser humano deve ser o medo.
Bom, nós não fabricamos veneno, não voamos, não conseguimos morder, temos um tamanho desengonçado, não ouvimos e nem enxergamos muito bem – apenas podemos pensar analisar, tirar conclusões, perceber causa e efeito. E é justamente esta consciência que trás o pânico de observar que lá na frente você não vai “se dar” bem.
E mesmo assim você toma vinho, faz amor, brinca, briga. Você não diz: “Bom.. hoje não darei risada por que sou mortal.”
A melancolia e a depressão é esse pânico embutido na sua experiência adaptativa que vem e te afoga.
Esse animal assustado e amedrontado tem uma experiência única entre todos os animais. Carregamos um predador dentro de nós mesmos. – um animal que tem mais consciência do que deveria ter. Só que justamente ter mais consciência do que devia foi extremamente necessário para se adaptar – esse é o grande instrumento de sobrevivência dele, é ao mesmo tempo o que corrói ele inconscientemente (na linguagem psicanalítica de Becker).
Becker:
– “ao mesmo tempo em que o temor da morte esta sempre presente no funcionamento psicológico normal do nosso instinto de auto preservação, também é total o nosso esquecimento deste temor na nossa vida consciente.”
O paradoxo é que o homem esta fora da natureza e inevitavelmente nela. O homem esta dividido em dois, tem consciência da sua esplêndida situação de destaque na natureza e, no entanto retorna ao interior da terra, nos sete palmos para cega e mudamente apodrecer e desaparecer para sempre. É assustador conviver com este dilema.
FUGA PARA SÍ MESMO
Não é a toa que grande parte da nossa experiência humana é negociar com formas de não ter consciência disso. Vivemos em uma época em que uma cultura é totalmente dominada pela ideia de que vamos viver para sempre.
Este simulacro que se encontra, é o que motiva as pessoas para algo chamado “sucesso” – que nem sei como elas conseguem achar uma definição para isso, já que o sucesso existe de diferentes formas na percepção de cada um.
O que é percebido é que quando mais obcecado pelo sucesso mais deprimido você fica, já que naturalmente no final você sempre perde .O nosso corpo fala por nós.
Vemos pessoas tentando negar o fracasso fisiológico, o que as desgasta muito psiquicamente, e isso só faz com que precisem de mais energias fisiológicas.
O ser humano tem que fugir de si mesmo assim como o lobo uiva para a lua. Mesmo que você não pense que esteja fazendo isso.
Citando Freud, “parece que a criação não leva em consideração a felicidade humana.”
O paradoxo do ser humano é ter uma consciência para se esquecer de si próprio.
Então qual seria uma consciência possível verdadeira diante de uma coisa como essa?
Em um Dialogo de Becker com o filosofo Ortega Y Gasset:
“A verdadeira condição do ser humano é a de um naufrago” – você só cresce e vira gente quando você toma consciência de que você já perdeu – está perdido. Perceber que está jogado em um mundo, uma ilha, por um desastre, e não tem muito como sair disso.
O psicólogo e psiquiatra, Karl Jaspers, (próximo a filosofia existencial) diz:
Como você pode começar a falar de cura?
Num processo terapêutico, você só começa a sair do buraco , quando você percebe que a existência é um naufrágio (só então você toma consciência) – uma profunda experiência de gozo, em estar vivo, na maioria das pessoas que tiveram sorte – mas durante o ato de viver o gozo vai sendo enfrentado, frustrado, destruído e desiludido.
Desta forma, o medo pode ser uma forma da consciência. É um instinto de auto preservação - dominar os perigos que a ameaçam, manter a vida.
O temor da morte deve estar presente por trás de todo o nosso funcionamento normal a fim de que o organismo possa estar armado em prol da auto preservação.
O universo não é um berço, o medo é natural. Já sábia Darwin.
Agente aprende a lidar com ele, já que estamos num mundo civilizado, esperamos que ninguém jante agente.
A CORAGEM
Talvez a coragem não seja uma coisa que existe onde não há medo – mas sim exista ao lado do medo.
Mesmo assim, existe uma admiração aos heróis, o sonho de sermos heróis. Por mais mentiroso que sejamos todos sabemos reconhecer pessoas corajosas. Muitas vezes não a reconhecem para não elevar o ego desta pessoa, ou diminuir o seu próprio.
Vou citar um exemplo de heroísmo cotidiano, e analisar após:
Imagine uma família alemã, em meio à ocupação alemã. Imagine você sendo parte desta família, que não tem nada haver com os judeus, homossexuais e/ou ciganos (que estavam abaixo dos cachorros) nesta época e localidade. Alguém da sua família, sua mulher, mãe ou pai, resolve esconder alguém destes marginalizados na sua casa. Você não tem nenhuma relação com esta pessoa, e você pode acabar se prejudicando (morrendo, sendo decapitado ou sendo aprisionado para sempre) a qualquer momento, simplesmente por que alguém da sua família quer o bem da humanidade.
Mas quem é a humanidade? Você sabe quem é seu professor, vizinho amigo, inimigo. Outros você nem sabem que existem, se desaparecerem, ou não, é como se nunca tivessem existido da mesma forma.
O cineasta, Woody Allen disse: “Mas de que judeus vocês estão falando? Do meu tio Isack ou do meu avo Abraão?”
É simples perceber que não há homogeneidade alguma em nenhum grupo, etnia, sociedade ou até pequenos grupos. Então como defender algo que não é?
Mas é por que na verdade a pessoa não esta defendendo a humanidade, mas sim defendendo um valor que possui - que foi construído pela vida, nesta pessoa.
Você poderia muito bem se perguntar: “Quem minha mãe (neste caso) ama mais, esta gente ou a mim? Pois estou correndo risco de vida!
Quero chegar ao ponto em que, sendo assim, ter coragem, não é necessariamente racional, leia-se, fazer com razão seguindo o instinto de sobrevivência. Estrutura mental que garante a sobrevivência.
Edgar Morin, já exprimia que deve haver um ponto político entre a coragem e a covardia.
O racional (seguindo a definição que citei a cima) seria sua mãe cuidar da vida dela – no entanto também não entregando pessoas.
Graças a deus, ou melhor,(hehe) graças a espécie, existem pessoas que conseguem em situações como essa enfrentar e ir a diante sem nenhuma razão ou chance – mas algumas acabam por pagar um preço muito caro.
Concluindo esta história, após ter exposto sua família àquilo, a mãe diz que simplesmente não poderia ter feito de outro jeito. (este é o ponto principal o qual eu estudo e complemento o raciocínio de Darwin e Becker, os que acompanham o blog já devem saber sobre a escravidão que nossas crenças naturais, e não estou falando de religião estritamente, nos colocam em um mundo não real – inclusive criando o que quer que sejamos, assim, não nos deixando nenhum livre arbítrio.)
HEROISMO E DESEJO
Já que o medo pode ser uma forma de consciência, e o heroísmo talvez seja irracionalidade.
O herói não pede platéia, ao contrário do narcisista que precisa de platéia.
A coragem poderia existir de alguma forma em assumir o medo, desta forma, qualquer ato tomado vai ter uma perspectiva mais real.
O fato é que independente do herói, ou do covarde, é a vontade, o desejo, ou até mesmo aquilo que “não poderia ter feito de outra forma” – como disse a mãe do exemplo na história contada -, que faz com que cada se encaixe, relativamente, a cada um desses lados.
Arthur Schonnpenhauer diz que a vontade, o desejo, tem duas formas de humilhar você:
O primeiro é nunca deixar você chegar ao que você quer; o outro é deixar você chegar naquilo que você quer.
O que percebemos, é o terrível controle o qual ele tem por nós mesmos. (E não poderia ser diferente, ou melhor, pode, mas é tudo natural. Tudo isso vai se formando a partir das experiências perceptivas que vamos tendo desde o momento da nossa primeira percepção do mundo, ainda recem nascidos, e nossos instintos naturais fisiológicos que trabalham inconscientemente em nosso corpo – e assim influenciam na nossa percepção. Por exemplo, uma pessoa que nasceu sem a capacidade de enxergar, ela acaba possuindo aspectos diferentes de experiências e assim julgamentos de outras experiências e formação de percepção, diante de uma pessoa com o aparelho visual comum.)
SOCIEDADE DO DESEJO
O desejo é um problema, e a nossa cultura contemporânea, talvez seja a primeira experiência histórica avassaladora em que uma sociedade confia no nosso próprio desejo, desta forma descontrolada.
Rastreando a filosofia ou os grandes sistemas religiosos, mais ou menos no passado, sempre houve dúvidas em relação ao desejo.
Por que o desejo é uma espécie de um canal selvagem que você não consegue controlar.
O que cria o medo não é o desejo, o medo é a própria construção da mente humana, percebendo onde você esta, o medo é praticamente fisiológico.
Somos educados para ter medo do desejo – já que nem tudo possa estar ao nosso alcance sempre. O filósofo Kiekengard diz que não é culpa da sociedade, não é culpa do estado, não é culpa da mídia, e nem dos seus pais. Quem nos ensina é a vida.
Agente ter medo de andar na rua, por que agente é inteligente; sonhamos com não ter medo.
Temos medo por que somos um cérebro amarrado a um tudo digestivo. Um cérebro que enxerga e faz poesia e ao mesmo tempo esta atada ao tubo digestivo. Uma espécie de Deus amarrado a um tubo digestivo (o corpo que apodrece) - experiência que sérvio de matriz ao banquete de Platão.
Não temos controle da nossa vida e começamos a perceber a partir do nosso corpo, que tem vida própria.
George Bernanus se refere a esta angustia como um pó muito fino; você não vê ele, mas ele vai caindo, entrando na sua boca, olhos, ouvido, você começa a se mexer pra afastar aquilo, mas parece que a verdadeira relação com ele, não é algo que acontece com você, ou entra como uma brecha na sua alma. Ele é parte de você.
A alma tem medo, por que ela sabe mais do que deve, mas ela nunca vai saber mais do que precisa.
As pessoas desta sociedade pós-moderna, através de um simulacro cultural, costumam temer a crise, assalto, terrorismo e doenças. Vivendo atrás de grades e câmeras de vídeo.
Mas da onde será que veio o medo?
Temos mais medo hoje, ou o homem sempre foi esse animal atormentado?
Compartilho da visão do filósofo Luis Felipe Ponde (palestrante do café filosófico) quando diz que o ser humano é um animal que morre de medo, e tem razão mesmo neste medo. Você não sabe da onde veio, não sabe pra onde vai, não sabe por que esta aqui, de vez em quando você tem sinais leves, mas não sabe se são verdadeiros.
Se agarra a coisas para poder passar da hora em que acorda até a hora em que vai dormir. Com a idade, o tempo, os problemas aumentam - há razão para ter medo.
O medo não foi inventado por algum vírus, ou terrorismo.
Pretendo abordar o medo como experiência ancestral, utilizando da teoria da seleção natural, do naturalista e biólogo Charles Darwin, e a teoria da negação da morte do antropólogo Ernest Becker:
Vou citar uma história para iniciar a analise:
- Imagine que você possa passear pelo espaço e tempo no Universo. Possa ir pra qualquer lugar. Agora foque no planeta Terra. Vá até a costa da África. Observe um grupo de humanos, caminhando em um tempo de calor muito grande. Agora foque em uma criança berrando, tentando segurar a mão de uma menina, que por inércia segura a sua mão. Esta mesma menina pisa na cabeça de um velho, que tivera caído de tanto calor e desnutrição. Instintivamente a menina pega um verme na areia e o engole. Ao lado dela um homem totalmente perdido, com medo e fome e achando que escuta vozes. Na frente dele uma mulher com um feto em sua barriga que não se mexe mais. Essa mulher sente muita dor, cai de joelhos no chão, olha pra cima, e lá em cima tem uma espécie de criador cego com os olhos vermelhos ejetados de sangue olhando para ela. E esses são nossos patriarcas. E são deles que agente descende. Este é o Universo iluminado pela Teoria Darwinista.
Se este grupo esta sobrevivendo até agora, é por que eles foram bem sucedidos num mundo agressivo. A seleção natural esta operando no clímax quando isto acontece.
Este é o mundo em que vivemos. Um mundo onde você pode ser comido a qualquer hora – fazemos parte da cadeia alimentar. Embora os tempos sejam outros, nada disso mudou. Talvez seja tudo mais civilizado em termos mais reais comparados com nossos ancestrais, no entanto continua tão selvagem quanto, e até mais em outros aspectos, tanto psicológicos quando físicos – a civilidade é só uma máscara.
Caminhando junto com estes fatos e conclusões, Becker, inspirado no Freud e Otto Rank, fala sobre o conceito da mentira caracteriológica, chamado também de Mentira Salvadora.
Está ideia esta ligada ao Conceito de Repressão.
Segundo Becker, nós devemos gastar energias psíquicas enormes, para conseguirmos viver a cada dia, não sendo atormentado pela consciência de que a qualquer momento pode dar errado.
Becker indica que isso deve ocorrer no fundo no nosso psiquismo e devemos possuir um mecanismo para manter a estrutura funcionando para garantir que essa consciência não venha à tona. Por que se isso vier à tona a demanda que você tem dessa consciência com certeza desabará e não possibilitará a vontade de sobrevivência e no menor, diminuirá as possibilidades de reprodução. E como Darwin descobriu com a “lei” da seleção natural e Richard Dawkins transcreveu muito bem em “O gene Egoísta”, isso vai contra a vontade de sobreviver do nosso verdadeiro Criador – o nosso gene.
Estaríamos paralisados diante deste pânico, sem esta estrutura de repressão inconsciente (também pode ser sinonimo de fisiológica, funcionamento natural do animal que somos)
VOLTANDO AOS NOSSOS PATRIARCAS:
Este pânico deve estar embutido em nossas experiências de adaptação:
O antropólogo, totalmente embasado na teoria Darwiniana, aponta que quem conseguiu mentir melhor sobreviveu, quem ficou paralisado diante do terror da existência não reproduziu e assim diante da teoria de Darwin não se adaptou (não transmitiu seus memes, ou seja, sua cultura experienciada).
Aqueles que sobreviveram foram os que conseguiram esquecer que (talvez) o principal afeto (a principal percepção) do ser humano deve ser o medo.
Bom, nós não fabricamos veneno, não voamos, não conseguimos morder, temos um tamanho desengonçado, não ouvimos e nem enxergamos muito bem – apenas podemos pensar analisar, tirar conclusões, perceber causa e efeito. E é justamente esta consciência que trás o pânico de observar que lá na frente você não vai “se dar” bem.
E mesmo assim você toma vinho, faz amor, brinca, briga. Você não diz: “Bom.. hoje não darei risada por que sou mortal.”
A melancolia e a depressão é esse pânico embutido na sua experiência adaptativa que vem e te afoga.
Esse animal assustado e amedrontado tem uma experiência única entre todos os animais. Carregamos um predador dentro de nós mesmos. – um animal que tem mais consciência do que deveria ter. Só que justamente ter mais consciência do que devia foi extremamente necessário para se adaptar – esse é o grande instrumento de sobrevivência dele, é ao mesmo tempo o que corrói ele inconscientemente (na linguagem psicanalítica de Becker).
Becker:
– “ao mesmo tempo em que o temor da morte esta sempre presente no funcionamento psicológico normal do nosso instinto de auto preservação, também é total o nosso esquecimento deste temor na nossa vida consciente.”
O paradoxo é que o homem esta fora da natureza e inevitavelmente nela. O homem esta dividido em dois, tem consciência da sua esplêndida situação de destaque na natureza e, no entanto retorna ao interior da terra, nos sete palmos para cega e mudamente apodrecer e desaparecer para sempre. É assustador conviver com este dilema.
FUGA PARA SÍ MESMO
Não é a toa que grande parte da nossa experiência humana é negociar com formas de não ter consciência disso. Vivemos em uma época em que uma cultura é totalmente dominada pela ideia de que vamos viver para sempre.
Este simulacro que se encontra, é o que motiva as pessoas para algo chamado “sucesso” – que nem sei como elas conseguem achar uma definição para isso, já que o sucesso existe de diferentes formas na percepção de cada um.
O que é percebido é que quando mais obcecado pelo sucesso mais deprimido você fica, já que naturalmente no final você sempre perde .O nosso corpo fala por nós.
Vemos pessoas tentando negar o fracasso fisiológico, o que as desgasta muito psiquicamente, e isso só faz com que precisem de mais energias fisiológicas.
O ser humano tem que fugir de si mesmo assim como o lobo uiva para a lua. Mesmo que você não pense que esteja fazendo isso.
Citando Freud, “parece que a criação não leva em consideração a felicidade humana.”
O paradoxo do ser humano é ter uma consciência para se esquecer de si próprio.
Então qual seria uma consciência possível verdadeira diante de uma coisa como essa?
Em um Dialogo de Becker com o filosofo Ortega Y Gasset:
“A verdadeira condição do ser humano é a de um naufrago” – você só cresce e vira gente quando você toma consciência de que você já perdeu – está perdido. Perceber que está jogado em um mundo, uma ilha, por um desastre, e não tem muito como sair disso.
O psicólogo e psiquiatra, Karl Jaspers, (próximo a filosofia existencial) diz:
Como você pode começar a falar de cura?
Num processo terapêutico, você só começa a sair do buraco , quando você percebe que a existência é um naufrágio (só então você toma consciência) – uma profunda experiência de gozo, em estar vivo, na maioria das pessoas que tiveram sorte – mas durante o ato de viver o gozo vai sendo enfrentado, frustrado, destruído e desiludido.
Desta forma, o medo pode ser uma forma da consciência. É um instinto de auto preservação - dominar os perigos que a ameaçam, manter a vida.
O temor da morte deve estar presente por trás de todo o nosso funcionamento normal a fim de que o organismo possa estar armado em prol da auto preservação.
O universo não é um berço, o medo é natural. Já sábia Darwin.
Agente aprende a lidar com ele, já que estamos num mundo civilizado, esperamos que ninguém jante agente.
A CORAGEM
Talvez a coragem não seja uma coisa que existe onde não há medo – mas sim exista ao lado do medo.
Mesmo assim, existe uma admiração aos heróis, o sonho de sermos heróis. Por mais mentiroso que sejamos todos sabemos reconhecer pessoas corajosas. Muitas vezes não a reconhecem para não elevar o ego desta pessoa, ou diminuir o seu próprio.
Vou citar um exemplo de heroísmo cotidiano, e analisar após:
Imagine uma família alemã, em meio à ocupação alemã. Imagine você sendo parte desta família, que não tem nada haver com os judeus, homossexuais e/ou ciganos (que estavam abaixo dos cachorros) nesta época e localidade. Alguém da sua família, sua mulher, mãe ou pai, resolve esconder alguém destes marginalizados na sua casa. Você não tem nenhuma relação com esta pessoa, e você pode acabar se prejudicando (morrendo, sendo decapitado ou sendo aprisionado para sempre) a qualquer momento, simplesmente por que alguém da sua família quer o bem da humanidade.
Mas quem é a humanidade? Você sabe quem é seu professor, vizinho amigo, inimigo. Outros você nem sabem que existem, se desaparecerem, ou não, é como se nunca tivessem existido da mesma forma.
O cineasta, Woody Allen disse: “Mas de que judeus vocês estão falando? Do meu tio Isack ou do meu avo Abraão?”
É simples perceber que não há homogeneidade alguma em nenhum grupo, etnia, sociedade ou até pequenos grupos. Então como defender algo que não é?
Mas é por que na verdade a pessoa não esta defendendo a humanidade, mas sim defendendo um valor que possui - que foi construído pela vida, nesta pessoa.
Você poderia muito bem se perguntar: “Quem minha mãe (neste caso) ama mais, esta gente ou a mim? Pois estou correndo risco de vida!
Quero chegar ao ponto em que, sendo assim, ter coragem, não é necessariamente racional, leia-se, fazer com razão seguindo o instinto de sobrevivência. Estrutura mental que garante a sobrevivência.
Edgar Morin, já exprimia que deve haver um ponto político entre a coragem e a covardia.
O racional (seguindo a definição que citei a cima) seria sua mãe cuidar da vida dela – no entanto também não entregando pessoas.
Graças a deus, ou melhor,(hehe) graças a espécie, existem pessoas que conseguem em situações como essa enfrentar e ir a diante sem nenhuma razão ou chance – mas algumas acabam por pagar um preço muito caro.
Concluindo esta história, após ter exposto sua família àquilo, a mãe diz que simplesmente não poderia ter feito de outro jeito. (este é o ponto principal o qual eu estudo e complemento o raciocínio de Darwin e Becker, os que acompanham o blog já devem saber sobre a escravidão que nossas crenças naturais, e não estou falando de religião estritamente, nos colocam em um mundo não real – inclusive criando o que quer que sejamos, assim, não nos deixando nenhum livre arbítrio.)
HEROISMO E DESEJO
Já que o medo pode ser uma forma de consciência, e o heroísmo talvez seja irracionalidade.
O herói não pede platéia, ao contrário do narcisista que precisa de platéia.
A coragem poderia existir de alguma forma em assumir o medo, desta forma, qualquer ato tomado vai ter uma perspectiva mais real.
O fato é que independente do herói, ou do covarde, é a vontade, o desejo, ou até mesmo aquilo que “não poderia ter feito de outra forma” – como disse a mãe do exemplo na história contada -, que faz com que cada se encaixe, relativamente, a cada um desses lados.
Arthur Schonnpenhauer diz que a vontade, o desejo, tem duas formas de humilhar você:
O primeiro é nunca deixar você chegar ao que você quer; o outro é deixar você chegar naquilo que você quer.
O que percebemos, é o terrível controle o qual ele tem por nós mesmos. (E não poderia ser diferente, ou melhor, pode, mas é tudo natural. Tudo isso vai se formando a partir das experiências perceptivas que vamos tendo desde o momento da nossa primeira percepção do mundo, ainda recem nascidos, e nossos instintos naturais fisiológicos que trabalham inconscientemente em nosso corpo – e assim influenciam na nossa percepção. Por exemplo, uma pessoa que nasceu sem a capacidade de enxergar, ela acaba possuindo aspectos diferentes de experiências e assim julgamentos de outras experiências e formação de percepção, diante de uma pessoa com o aparelho visual comum.)
SOCIEDADE DO DESEJO
O desejo é um problema, e a nossa cultura contemporânea, talvez seja a primeira experiência histórica avassaladora em que uma sociedade confia no nosso próprio desejo, desta forma descontrolada.
Rastreando a filosofia ou os grandes sistemas religiosos, mais ou menos no passado, sempre houve dúvidas em relação ao desejo.
Por que o desejo é uma espécie de um canal selvagem que você não consegue controlar.
O que cria o medo não é o desejo, o medo é a própria construção da mente humana, percebendo onde você esta, o medo é praticamente fisiológico.
Somos educados para ter medo do desejo – já que nem tudo possa estar ao nosso alcance sempre. O filósofo Kiekengard diz que não é culpa da sociedade, não é culpa do estado, não é culpa da mídia, e nem dos seus pais. Quem nos ensina é a vida.
Agente ter medo de andar na rua, por que agente é inteligente; sonhamos com não ter medo.
Temos medo por que somos um cérebro amarrado a um tudo digestivo. Um cérebro que enxerga e faz poesia e ao mesmo tempo esta atada ao tubo digestivo. Uma espécie de Deus amarrado a um tubo digestivo (o corpo que apodrece) - experiência que sérvio de matriz ao banquete de Platão.
Não temos controle da nossa vida e começamos a perceber a partir do nosso corpo, que tem vida própria.
George Bernanus se refere a esta angustia como um pó muito fino; você não vê ele, mas ele vai caindo, entrando na sua boca, olhos, ouvido, você começa a se mexer pra afastar aquilo, mas parece que a verdadeira relação com ele, não é algo que acontece com você, ou entra como uma brecha na sua alma. Ele é parte de você.
A alma tem medo, por que ela sabe mais do que deve, mas ela nunca vai saber mais do que precisa.
hello... hapi blogging... have a nice day! just visiting here....
ResponderExcluirVocê foi desonesto, só fez copiar a palestra do Luiz Felipe Pondé, ponto por ponto.
ResponderExcluirInfeliz o seu comentário leitor. Diria que Pondé só fez copiar Becker? O conhecimento não está em lugar algum, como de costume ético na academia citei as fontes em que me embasei. Este blog não tem as propriedades academicas, no entanto tem o espaço aberto para discussões quase que simultâneas. Digo as fontes primárias, secundárias e o que partiu, propriamente dito, de mim - pouco em cada texto que escrevo. Precioso no conjunto de todos os textos.
ResponderExcluir