quarta-feira, 13 de junho de 2012

A GENIALIDADE DE NEWTON


Isaac Newton não formulou uma teoria do ser, não se propôs a pensar a ética nem deu devida importância a uma teoria do conhecimento ou à compreensão do homem. No entanto, não é possível compreender a maior parte da reflexão filosófica do século XVIII, e seu desenvolvimento até os dias de hoje, sem conhecer sua física e mecânica celeste.

Sua principal obra, Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, constitui um conhecimento que, ouso dizer, permeará no universo humano por todo o sempre. A obra sintetiza as duas grandes correntes metodológicas da ciência moderna, a matematização e a experiência, unindo e superando o empirismo de Francis Bacon, isto é, que a comprovação científica deveria ser feita pelos sentidos, e o racionalismo de Descartes, segundo o qual um postulado só pode ser verdadeiro se deriva de uma verdade.

Galileu Galilei e Johannes Kepler já haviam concebido a ideia de lei natural em toda a sua amplitude, profundidade e significação metodológica, mas só a aplicaram corretamente em alguns poucos fenômenos particulares, como o movimento dos corpos em queda livre e as órbitas dos planetas. Mas ainda faltava mostrar a legalidade rigorosa, encontrada nesses casos particulares, que poderia ser estendida para todo o universo. A obra de Newton cumpriu esta tarefa, iluminando o caminho a ser seguido pelas ciências da Natureza.

O sentido profundo do trabalho de Newton foi compreendido e admirado em seu tempo por pensadores, venerado por suas qualidades de grande investigador experimental e a aliança definitiva que estabeleceu entre a experimentação e a matematização. Immanuel Kant, o divisor de águas entre o pensamento moderno e o contemporâneo, ao propor-se a analisar a estrutura e os limites do conhecimento, tomou a física e a mecânica celeste, elaboradas por Newton, como sendo a própria ciência.  

Newton é o autor mais claro, organizado e cuidadoso que já pude ler. Tudo me leva a conceber que mais do que o conhecimento nos transmitido pelo mesmo, devemos aprender com Newton o seu método de investigação. A escolha de cada termo elucidativo, cada pausa em seu texto e a maneira clara, simples e cuidadosa com que trabalha palavra a palavra mostra-nos a quantidade de dedicação provinda deste homem, no seu pensar e construção dos conhecimentos. Em uma época nada privilegiada para a edição de textos, cenário de toda a vida de Newton, este nos faz refletir sobre quão importante é a minúcia, paciência e concentração na construção de conhecimento. Todos estes detalhes, talvez tão importantes quanto todo o resto, provavelmente proporcionaram a Newton certa clareza e domínio sobre determinados conteúdos, digamos, invejáveis.  Supostamente, esta é a característica essencial de sua genialidade.

Como é sabido que conhecimento é poder, Newton foi o homem mais poderoso de sua época. Entre suas principais contribuições para a história da ciência estão: o teorema do binômio e o método matemático das fluxões, que originaria o cálculo diferencial e integrado, considerado a mais importante inovação da história da matemática desde os gregos antigos. 

O método das fluxões considera cada grandeza finita como engendrada por um movimento ou fluxo contínuo, tornando possível calcular áreas limitadas, totalmente ou parcialmente, por curvas, bem como os volumes de figuras sólidas. Também desenvolveu uma teoria sobre a natureza corpuscular da luz (Óptica), evidenciando através de descobertas experimentais que a luz branca é constituída pela união das chamadas sete cores fundamentais do espectro. Também investigou as primeiras ideias sobre a atração gravitacional, a qual explica que a Lua mantém-se em órbita graças à força gravitacional.

Mas, sem dúvida alguma, o desenvolvimento e sistematização da mecânica foi o seu maior feito, descrito em Os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, constituindo a primeira grande exposição e mais completa sistematização da física moderna, sintetizando num todo único a mecânica de Galileu e a astronomia de Kepler, e fornecendo os princípios e a metodologia da pesquisa científica da Natureza.
Descrito por Newton em sua obra, o método científico consiste em

“... fazer experimentos e observações, e em derivar conclusões gerais das mesmas mediante indução, e em admitir objeções contra as conclusões, exceto as que procedem de experimentos ou de certas outras verdades”. “... assumir as causas descobertas e os princípios estabelecidos e, por seu intermédio, explicar os fenômenos que procedem deles e demonstrar as explicações.” (Newton, Issac; Princípios Matemáticos da Filosofia Natural).

O núcleo central de Princípios são as três leis fundamentais da mecânica. A primeira afirma que “todo corpo permanece em seu estado de repouso, ou de movimento uniforme em linha reta, a menos que seja obrigado a mudar de seu estado por forças impressas nele”. A segunda lei estabelece que “a mudança do movimento é proporcional à força motriz e se faz segundo a linha reta pela qual se imprime esta força.” Finalmente, a terceira lei diz que “a uma ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja, as ações de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e se dirigem a partes contrárias.” Tendo essas leis como base, Newton propõe-se a demonstrar todos os demais fenômenos.

Tanto a elucidação de cada termo utilizado quanto a criação de novos termos são uma ferramenta trivial para o cientista.

Newton foi eleito à presidência da Royal Society, uma das maiores academias de ciências que visam o progresso do conhecimento da Natureza, onde desempenhou um papel significativo até a sua morte. Nos últimos vinte anos de sua vida, Newton não fez mais nenhuma contribuição significativa para a história da ciência, dedicando-se a assuntos teológicos. Apesar disso, deve-se sublinhar que, na investigação dos fenômenos físicos, o autor dos Princípios repele qualquer noção de ordem metafísica ou religiosa.   

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