quarta-feira, 11 de maio de 2011

O Complexo de Édipo


O Complexo de Édipo é um conceito criado por Sigmund Freud, segundo o qual a criança, ao atingir o período sexual fálico, dá-se conta da diferença entre os sexos, tendendo a fixar a sua atenção nas pessoas do sexo oposto, que no ambiente familiar, é a mãe.

Freud busca na história grega ‘Édipo Rei’ as bases desse conceito. O ponto crucial da história é quando o filho (Édipo) mata o próprio pai (Lion) e toma a própria mãe (Jocasta) como esposa. Esse ato tem como conseqüência o condenar de Édipo a vagar sozinho sem rumo após ele mesmo ter furado os seus próprios olhos em castigo.

O complexo de Édipo inicia-se centralmente com a ilusão do bebê de possuir proteção e amor total, reforçado pelos cuidados intensivos que recebe da figura materna.

Quando começam a ser impostas certas proibições, como não dormir mais com os pais, não andar nu, controlar os esfíncteres, etc, a criança percebe que não é o centro do universo e precisa renunciar ao mundo confortável em que se encontra.

Ocorre, com isso, a diferenciação da criança em relação aos pais, quando começa a perceber que os pais pertencem à sociedade e que esta criança também deverá ser inserida nela. 

Normalmente, quem exerce o papel da ordem é o pai, responsável pelas proibições em relação ao modo como o filho é, socialmente e em família. Exige que o filho durma em sua própria cama, o respeite, e comece a ‘se comportar’ em sociedade.
A mãe muitas vezes cede, ‘mima’ e consola o filho.

O pai, neste caso, representa a inserção da criança na cultura, é a ordem social. A criança também começa a perceber que o pai pertence à mãe e por isso dirige sentimentos hostis em relação a este. Mas estes sentimentos são contraditórios, porque a criança também ama a figura que hostiliza.

"...sentimentos contraditórios, porque a criança também ama a figura que hostiliza..."

Quanto à mãe, passa a ser a ‘musa’ da criança, aquela a quem direciona sua pulsão sexual que começa a se manifestar, e a protetora a quem procura para se defender das imposições a que começa a ser submetida.

É preciso deixar claro que a pulsão sexual de que fala Freud nessa fase da vida da criança não significa desejo de fazer sexo com a mãe, como os mais leigos anunciam ou crêem. A criança apaixona-se pela figura que lhe é tão importante e essencial, vê nela sua fortaleza e deseja estar o tempo todo com esta, cujos cuidados satisfazem seus desejos mais profundos de conforto e prazer.

A mãe, por sua vez, pode complicar ainda mais essa fase, ao agir como se seu filho fosse um produto ou objeto seu. É dificuldade geral o entendimento de que a criança não é algo que pertence à sua mãe. Esta, se apega extremamente ao sentimento de ser amada, querida e desejada a todo momento pelo filho, tendo dificuldade de deixa-lo sozinho para aprender a fazer seu próprio caminho, longe dela.

Atitudes como deixar que o filho durma consigo, não deixa-lo sozinho ou com outras pessoas e que ele se intitule – ou se sinta - ‘namorado’ da mãe fazem com que a criança demore a perceber-se individualmente.

"... a criança sente-se "namorado" da mãe..."

A diferenciação do sujeito é permeada pela identificação da criança com um dos pais. Daí a importância da presença do pai na vida da criança, pois ele passa a ser o modelo, há o desejo de ser como ele, que também possui o amor da mãe.

Em nossa sociedade, é comum a figura do pai ausente, que ocorre por separação, morte do mesmo ou motivos de trabalho. Mas, ao contrário do que se pode pensar, isso não exclui a figura paterna da vida da criança, mesmo quando este pai não é substituído por outro. Ele pode vir a se tornar mais presente do que se fisicamente estivesse convivendo com a criança e a família em geral.

Isso acontece porque a mãe, ao sentir-se impotente ao lidar com a criança, traz à tona a presença de um pai invisível (virtual), que passa a fazer parte da família.

Frases como: “Se o seu pai visse isso...” ou “Seu pai não gostaria disso...” ou “Nem parece filho do seu pai...”,  entre outras,  incutem na criança uma figura sempre presente e muito mais "castradora" do que um pai físico, com o qual ele possa se confrontar. Este, se torna na verdade um pai onipresente, existente por toda parte e sem defeitos. Um pai imbatível a quem o filho, por nunca poder derrotar, se rende e se submete.

"...isso revela a importância da ajuda dos pais para a superação dessa fase..."

Tudo isso revela a importância da ajuda dos pais para a superação dessa fase. Mas estes, sem saber da importância que seus atos têm para as crianças, acabam complicando ainda mais a vida de seus filhos.
É importante que a criança diferencie desde cedo (exceto nos primeiros meses de vida) que o amor que a mãe sente por ele não é o mesmo dedicado ao pai e que seja estimulado a aprender e estar sozinho, sendo capaz de resolver certos conflitos sem a ajuda constante dos pais.

Édipo Rei
Isso, apesar de necessário, não é fácil, pois a criança deseja ter seus desejos satisfeitos a qualquer custo e no momento exato, sendo frustrante perceber que deve renunciar a esses desejos para que possa fazer parte do mundo onde está sendo inserida. Por isso, segundo Freud, as situações de negação de prazer por forças externas remetem a situações vivenciadas na infância quando era extremamente difícil compreender o porquê dessas renúncias.

Assim, o clássico ‘Édipo Rei’, nos lembra que a busca do prazer sem restrições, sem considerar o outro, nos torna cegos para o mundo à nossa volta, nos leva à exclusão do convívio social e perda da razão, a qual deixamos de prezar à medida que priorizamos a procura pelo prazer.

5 comentários:

  1. Muito bom o texto! Bem didático para aqueles iniciantes na psicanálise. rs

    Bom, tenho alguns comentários a fazer. Alguns aspectos da teoria freudiana são frutos de constante debate entre os psicanalistas porque constituem uma variabilidade de acordo com quem lê a obra de Freud. Portanto, a maioria dos psicanalistas (pelo menos os mais ortodoxos, menos abertos à interdisciplinalidade) realmente afirma que o Complexo de Édipo se trata de uma vontade INCONSCIENTE, realmente, de o filho tomar a mãe para si, sexualmente, romanticamente, e matar o pai. Assim como no equivalente do Édipo para as mulheres. Portanto, não se trata de somente um desejo de ter a mãe para si e etc. Segundo os psicanalistas, o Complexo pode até se manifestar conscientemente na forma desse desejo citado por vc, mas inconscientemente ele, de fato, é o desejo pela mãe.

    Outra coisa que notei foi que no texto está escrito que temos uma tendência a direcionar o interesse ao sexo oposto, de acordo com o Édipo. Pelo contrário, para Freud, o ser humano é naturalmente bissexual, tendo sua sexualidade direcionada para um ou outro sexo na infância, com o complexo de édipo. Mas se a criança vai direcionar seu desejo às pessoas do mesmo sexo ou ao oposto, é a convivência com os pais, que, automaticamente, configurará o direcionamento do Édipo.

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  2. Oi Felipe,
    Freud realmente trata o Complexo de Épico como o desejo pela mãe, mas mesmo que a criança tenha esse desejo, não significa que pense em fazer sexo com a mãe, até porque não têm significação suficiente para entender o que esse desejo significa. Estou abordando o complexo pela visão da criança, e, na prática, a criança apenas age do modo como expliquei, querendo ter a mãe apenas para si. Ocorre mais como sentimentos que ela não controla do que como coisas que deseja ou imagina fazer, entende?
    O esclarecimento que fiz também foi necessário devido aos preconceitos que muitos têm ao ouvirem falar de sexualidade infantil, especialmente em se tratando de Freud, sendo que este é um desenvolvimento natural e não nenhum tipo de 'perversão' ou retirada da inocência da criança.
    Sobre a bissexualidade, é um comentário pertinente, mas como o meu foco seria na superação do complexo, achei mais importante apenas colocar que existe uma "tendência a fixar a atenção nas pessoas do sexo oposto", implicitamente mostrando não ser exclusivamente isso o que pode acontecer.

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  3. Como falar em desejo de possuir a mãe sexualmente tratando-se de uma criança de 3/4 a 5/6 anos? Realmente não entendo do que se está falando.

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  4. Muito boa a explicação, mas mesmo assim tem pessoas que nunca entenderá de forma lúcida.

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