M. Merleau-Ponty
Quando crianças percebemos antes mesmo de entender o que é a palavra "pensar", ou ao menos o que é uma palavra. Projetamos nossos sonhos nas coisas, pensamentos nos outros, formando com eles um bloco de vida comum, onde as perspectivas de cada um ainda não se distinguem.
A nossa percepção nos dá a fé num mundo, o qual temos a bárbara convicção de irmos às coisas.
Graças a nosso início de vida, já com ilusões introspectivas e com ausência de condições para que o mundo seja percebido, é praticamente nula a nossa chance de escapar da obscuridade da fé perceptiva.
Todos nós atingimos o mundo e o mesmo mundo, ele é todo para cada um de nós, sem divisão, nem perda, porque é o que pensamos perceber.
Desta forma, é bem verdade que percebemos a própria coisa, já que a coisa nada mais é do que aquilo que vemos, porém vemos apenas a "coisa" - pensamento, simbolo o qual nosso imaginário cria condições para que seja percebido. É uma resposta nossa de acordo com o que é que tenhamos estudado.
O real esta possuído por uma dependência recíproca com o pensamento - enxergamos os objetos pela metade, ou fantasmas - pré-coisas, que desaparecem quando passamos à visão real, voltando para dentro da coisa como a sua verdade meridiana -, ambos sem consistência alguma. O seu ícone, o mundo visível, nunca modifíca-se, porém o seu significado pelo qual enxergamos é dissimulado em cada mundo privado, de modo único condicionado pela fé perceptiva.
Os mundos privados tem capacidades de comunicarem-se entre si - esta comunicação transforma-nos em testemunhas de um mundo único, como a sinergia de nossos olhos nos detém numa unica coisa.
A menor retoma da atenção nos convence de que esse outro que nos invade é todo feito da mesma substância: nossas cores, nossa dor, nosso mundo, precisamente enquanto nosso, como os conceberia, senão a partir das cores que vemos, das dores que temos, do mundo em que vivemos? Pelo menos, o mundo privado deixou de ser apenas individual; é, agora, instrumento manejado por outro, dimensão de uma vida generalizada que se enxertou nesta.
Tais mundos privados, não são "mundos" a não ser para seu titular, eles não são o mundo. O único mundo, isto é, o mundo único seria o real (que está apenas parado, esperando a nossa observação e o verdadeiro entendimento), e não é sobre ele que se abrem nossas percepções, mas sim sobre o mundo simbólico, o qual nosso imaginário traduz.
Meu corpo não percebe, mas é como se estivesse sido construído em torno de uma percepção que se envidencia através do próprio.
Entre cada ser em sua ilha e as próprias coisas, existem poderes ocultos, toda uma vegetação de fantasmas, que só é compreendida e dominada no ato frágil do olhar. Sem dúvida, não é inteiramente nosso corpo que percebe, mas sei que ele é capaz de impedir-nos de perceber, não sendo possivel perceber sem a sua permissão; No momento em que a percepção surge, ela se apaga diante de si, e nunca percebe o seu próprio ato de perceber.
Os estímulos da percepção não são as causas do mundo percebido, mas são eles que as revelam, isto é, o conflito entre o imaginário e o real não são as causas do mundo visível, mas são eles que tiram o véu diante nossos olhos ingênuos.
Tapar os olhos para não ver um perigo é, não acreditar nas coisas, acreditar somente no mundo privado; no entanto, é antes acreditar que o que é para nós o é absolutamente para tudo e todos, que um mundo que temos a certeza de ver sem perigo é sem perigo; isso é portanto acreditar da maneira mais firme, que nossa visão vai às próprias coisas.
Essa experiência talvez seja capaz de ensinar, melhor que qualquer outra, o que seja a presença perceptiva do mundo - não, o que seria impossível, afirmação e negação da mesma coisa sob a mesma relação, juízo positivo e negativo, mas ir além do juízo.
É a experiência de habitar o mundo por meio de nosso corpo, ou seja, ter a fé perceptiva de que a verdade somos nós, sem que seja necessário escolher, nem mesmo distinguir entre a segurança de ver e a de ver o verdadeiro, pois são por princípio a mesma coisa - portanto fé, e não saber, uma vez que o mundo aqui está separado do domínio que temos sobre ele, sendo, ao invés de afirmado, tomado como evidente, e ao invés de revelado, não dissimulado.
Eder, mais uma vez parabéns.
ResponderExcluiradimiro muito vc, o texto está muito legal, compelta o que eu disse no meu texto, não acho que tudo possa ser verdade, sendo que as pessoas são livre para acreditar, ou não.
Mas devemos buscar o conhecimento sobre tudo...
Mais uma vez Parabéns...
interessante a sua percepção do conceito de percepção, sendo que seu artigo novamente não passa de uma "persepção" minha da sua persepção sobre a percepção (isso ficou meio enrolado, mas acho que deu pra entender).
ResponderExcluiracho que você já deve conhecer a chamada 'filosofia da mente', que busca entender o que é a mente, a consciência, entre outros... mas caso isso seja uma novidade, existe um site interessante sobre isso:
www.filosofiadamente.org
e parabéns pela iniciativa de um "video filosófico", até mais, abraço.
Você fez uma colcha de retalhos do Merleau-Ponty para poder compreender seu texto. Não seria mais fácil apresentar uma síntese?
ResponderExcluirComo assim tentar entender Merleau-Ponty?
ResponderExcluirSeria mais fácil para que?