domingo, 11 de janeiro de 2009

A IMAGEM

O homem, ao invés de servir das imagens e funções do mundo, passa a viver em função de imagens


Imagens são apenas superfícies que pretendem representar algo.
Toda sua origem deve-se à capacidade de abstração específica que podemos chamar de imaginação. A imaginação é a capacidade de codificar e decifrar fenômenos imagéticos em símbolos.

O significado da imagem encontra-se na superfície e pode ser captado por um golpe de vista. Porém, tal método de deciframento produzirá apenas o significado superficial da imagem, este que é apenas símbolo do nosso próprio imaginário. Ou seja, nunca deixa de ser falso.

Gostaria que todos entendessem que o que parece tão nítido e simples, ou seja, o que enxergamos no mundo, possui as formas e cores. No entanto, a imagem interpretativa, ou seja, o pensamento ingênuo que através de nossas percepções conceituamos, não é a verdade sobre o mundo.

A verdade que temos sobre o mundo esconde o fato de tudo ser apenas símbolos que nossas percepções criam.

Embora seja natural a todos nós este processo de percepção, é essencial para a compreensão de tudo ao nosso redor o caráter mágico das imagens.

O homem se esquece do motivo pelo qual imagens são produzidas: servirem de instrumentos para orientá-lo no mundo. E ao invés de se servir das imagens em função do mundo, passa a viver em função delas.
Imagens são apenas mediações entre homem e mundo - estas imagens são apenas símbolos criados pelo nosso próprio imaginário.

A própria introspecção - autoanalálise - é falsa. Já que nosso auto julgamento é processado dentro das leis do nosso próprio imaginário. Desta forma devemos quebrar a nossa própria análise e ir em busca do que está escondido por trás do nosso próprio símbolo que mascara o real.


No segundo milênio A.C., tal alucinação alcançou seu apogeu. Surgiram pessoas empenhadas no "relembramento" da função originária das imagens, passaram a rasgá-las, a fim de abrir a visão para o mundo concreto escondido pelas imagens. O método do rasgamento consistia em desfiar as superfícies das imagens em linhas e alinhar os elementos imagéticos. Eis como foi inventada a escrita linear. Tratava-se de transcodificar o tempo circular em linear, traduzir cenas em processos. Surgia assim a consciência histórica, consciência dirigida contra as imagens.
Fato nitidamente observável entre os filósofos pré-socráticos e sobretudo entre os profetas judeus.

A escrita funda-se sobre a nova capacidade de codificar planos em retas e abstrair todas as dimensões, com exceção de uma: a da conceituação, que permite codificar textos e decifrá-los.

Isto mostra que o pensamento conceitual é mais abstrato que o pensamento imaginativo, que preserva somente uma das dimensões do espaço-tempo.

Ao inventar a escrita, o homem se afastou ainda mais do mundo concreto quando, efetivamente, pretendia dele se aproximar. A escrita surge um passo aquém das imagens e não de um passo em direção ao mundo. Os textos não significam o mundo diretamente, mas através de imagens rasgadas.

Os conceitos não significam fenômenos, significam idéias.

Decifrar textos é (deve ser) descobrir as imagens significadas pelos conceitos. A função dos textos é explicar imagens, a dos conceitoos é analisar cenas. Em outros termos: a escrita é metacódigo da imagem.

Do mesmo modo que o homem é, a tempo demais, um idólatra das imagens - o homem que vive magicamente como as imagens sendo reflexo da realidade -, surge o textolatria, tendo uma fidelidade cega às ideologias (cristã, marxista, etc.), ou mesmo nas ciências exatas.

Logo na história surge mais uma idolatria, a da imagem técnica, ou seja, a fotografia.

Ontologicamente, as imagens tradicionais (pinturas, etc) imaginam o mundo; as imagens técnicas imaginam textos que concebem imagens que imaginam o mundo. Essa condição das imagens técnicas é decisiva para o seu deciframento.
A imagem técnica possui uma característica ontológica de aparentemente não ser necessária a sua decifração. Quando é criticada a imagem técnica, ela é criticada como visões de mundo e não como imagens.

O que vemos ao contemplar as imagens técnicas não é "o mundo", mas determinados conceitos relativos ao mundo, a despeito da automaticidade da impressão do mundo sobre a superfície da imagem.

A imagens técnicas, longe de serem janelas, são imagens, superfícies que transcodificam processos em cenas. Como toda imagem, é também mágica e seu observador tende a projetar essa magia sobre o mundo. O fascínio mágico que emana das imagens técnicas é palpável a todo instante em nosso entorno.

Resumidamente, a função das imagens técnicas é a de emancipar a sociedade da necessidade de pensar conceitualmente.

Analisando alguns tipos de imagem, eu quis chegar ao ponto de que: o que realmente importa nas imagens - o significado que elas possuem para nós -, não é perceptível apenas com a fé em nossas percepções, ao contrário, desta forma nos estabelecemos no mundo falso dos símbolos, e cada um é o culpado por si mesmo.

A imagem nunca é uma verdade, ela deve ser usada como meio de ligação entre o imaginário e o real. E não ser o reflexo da realidade.

3 comentários:

  1. Eder:
    Simulacro do latim simulacro ou você quis dizer alguma coisa a mais com seu comentário? Se quis realmente perguntar se entendo "o simulacro", sim. Agora minha pergunta: qual o mérito da questão?

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  2. Eder:
    Claro! Inclusive levantei estas questões num trechinho de texto (Eis o Simulacro) que escrevi assim que você me indagou. Tem msn ou coisa assim? Mais simples de a gente conversar.

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  3. #Plagiando o Vilém Flusser... Poderia ter pelo menos citado o nome dele.

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