terça-feira, 25 de novembro de 2008

Extradição dos Mortos
A dificuldade da morte de um pai já morto


A morte nada mais é, do que a linha de demarcação social que separa os “mortos” dos “vivos”. Desta forma, o além-morte é a extradição real dos mortos e a ruptura de troca simbólica com eles.

Quando estão presentes, diferentes, mas vivos e parceiros dos vivos em múltiplas trocas, os mortos não tem necessidade de ser imortais, não é necessário que o sejam, porque essa qualidade fantástica abalaria toda reciprocidade.

Apenas quando são excluídos pelos vivos os mortos se tornam docemente imortais, e essa sobrevivência idealizada não passa da marca do seu exílio social.

As religiões são ótimos exemplos de idéias utilizadas para a reclusão dos mortos, levando-os a imortalidade. Na verdade, o que a religião busca, não é tornar seres mortos, imortais, mas sim as suas idéias eternizadas.

Isso acontece, pois a imortalidade é progressiva, no tempo ela deixa de ser limitada para ser eterna, no espaço deixa de ser direito de alguns e passa a ser de todos.

Podemos levar em consideração no Egito, um emblema de poder e de transcendência social, o qual, povos primitivos onde não há estrutura política, também não há imortalidade pessoal. Chegando a conclusão que não passa de troca simbólica política.

Com ou sem imortalidade, tudo isto existe apenas no imaginário, na relação entre o real e os símbolos criados para o real pelo imaginário.

Resumidamente, o pai morto é utilizado como controle social, o qual abala a união entre os mortos e os vivos. Abala a troca entre a vida e a morte, desvincula a vida da morte, atinge a morte e os mortos como um interdito. O poder só é possível se a morte já não estiver liberta, se os mortos forem postos sob vigilância. Ou seja, se eles estiverem fora do âmbito do nascimento e da morte humana.

Já aquele que percebe este duplo na relação dos ancestrais que ainda o perturbam com idéias, este homem perde sua sombra. Tem a sua morte roubada, deixa de ser pobre e torna-se poderoso.

Desta forma, devo esclarecer que toda a relação humana é fixada entre o real e o imaginário, que são mediados pelo simbólico.

Por isso que este homem tem a sua morte roubada, levando em consideração que nenhum símbolo o dominará ou o perturbará entre este deserto da sua realidade, o qual se esconde toda a verdade da realidade.

As operações simbólicas são mais reais do que o próprio real para a sociedade, desta forma, o imaginário cria ou apenas aceita o significado simbólico que é transmitido por um pai morto, e considera esta representação do real, como a realidade, porém está é apenas o simulacro.

O que fica nítido é que mesmo sem a manipulação simbólica de outro, o simulacro pode existir, levando em consideração que é o imaginário individual que julga erroneamente a verdade, de acordo com uma lógica dentro do círculo ignorante em que a pessoa vive, e encaixa-se perfeitamente em seu manual de vivencia, totalmente, já mascarado por simulacros.

Uma criança ao nascer, não está iniciada, ou seja, ela possui apenas um “pai” e uma “mãe” reais. Porém para tornar-se um ser social, ela precisa passar pelo evento simbólico do nascimento/morte iniciáticos, é necessário que tenha feito o percurso da vida e da morte, para entrar na realidade simbólica da troca.

A realidade simbólica torna-se a realidade simulada, pois os símbolos já estão pregados como leis sagradas. Ou seja, você deve fazer o que for necessário para ser um ser socializado, independente de que você precise, ou não.

É a busca pelo mimetismo sensorial inato, ou seja, através de informações empíricas, de antepassados, ancestrais, o ser busca a adaptação bem sucedida através da imitação.

Alguns dos exemplos são: as respostas prontas (que busca apenas se adaptar de forma bem sucedida), conceitos de beleza (para torna-se um espelho desta própria sociedade já simulada), desejos (levando em consideração a lavagem cerebral que é feita, antes mesmo se entendermos como que é usado um cérebro). Múltiestímulo e múltiresposta por assimilação. Ausência do pensar. É bom lembrar que um neurocientista, não implica em seu domínio cerebral, apenas por sua compreensão científica.

É um centro de Reanimação Estética, Cultural e Sexual. Participamos e nos aprisionamos ainda mais em todo este mundo simulado. Como uma mariposa, que após bater na lâmpada a primeira vez, não aprende com o erro, mas sim, toda vez que olha para a luz fica seduzida novamente pela semelhança com o sol, o qual suas ancestrais deveriam seguir para conseguir alimento e fugir do inverno.

Ou seja, o homem precisa negar esta morte, e não somente ela, mas tudo aquilo que se encontra entre o real e o imaginário. Talvez no passado os indivíduos tenham sido fracos, ou ignorantes o bastante para não compreendê-la. Mas agora é a hora da mudança, não precisamos nos enganar para vivermos a realidade. A realidade está entre o objetivo e o subjetivo, esta é invisível, pois é simbólica, e devemos considerá-la como simbólica, ou seja, apenas uma representação e não como a coisa.

O simbólico não é um conceito, nem uma instancia ou categoria e tampouco uma estrutura. É um ato de troca e uma relação social que leva o real ao fim, que resolve o real e, ao mesmo tempo, a oposição entre o real e o imaginário.

O ato iniciático é o contrário do nosso princípio de realidade. Ele mostra que a realidade do nascimento e da morte advém apenas da separação entre o nascimento e a morte. Ou seja, a realidade da própria vida advém apenas da disjunção entre a vida e a morte.

Todo esse sistema de signos, coisas ou objetos, causa todo este transtorno que sempre se encontrou no mundo. Porém este é o preço que pagamos pela vida, o nosso acompanhante fantasma da morte.

Desde sempre povos viveram em cima de trocas simbólicas, e nem a morte cessa esta troca. Trata-se de uma lei absoluta, que mesmo hoje a sociedade moderna não mudou em nada, ao contrário, é exatamente a mesma. Através de todo o sistema da economia política, a lei da troca simbólica não teve alterado um único ponto: continuamos a trocar com os mortos, ainda que negados e proibidos de ficar em nosso meio.

Simplesmente pagamos com a nossa morte contínua e com a nossa angústia mortal a ruptura das trocas simbólicas com eles (ancestrais ideológicos). Ocorre profundamente o mesmo com relação à natureza inanimada e com os animais.

Apenas uma teoria da liberdade pode fingir que estamos quites com eles.

A dívida não acabará, porém o que devemos é saber lidar com ela, ou seja, entendê-la e julgar o mundo tal como. Exatamente simples assim.

É necessário que matemos de vez o pai morto, que só faz mascarar nossa realidade com interesses de homens aprisionados ou que buscam uma troca simbólica, com quem não pode haver um negócio justo.

2 comentários:

  1. O assunto é muito profundo, mas quero dizer que tenho uma notícia que vai além do que até então foi exposto sobre o além vida na terra.

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  2. eu não disse nada disso no texto. Houve um erro na compreensão da leitor a cima.

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