Atualmente, a internet é algo trivial, comum, em nossa vida cotidiana. Por meio dela, podemos realizar todas as nossas atividades e interagir com o mundo "virtual".
Mas há um equívoco quando utilizamos a palavra virtual. O primeiro motivo para isso talvez tenha sido o uso do termo “virtual” pela multimídia para seus fins de mercado. Criou-se em torno da palavra uma realidade midiática, conveniente às demandas do controle tecnocrático digital.
“Realidade virtual” se tornou uma palavra para o consumidor dos produtos informáticos e, depois, passou a ser usada para se referir de modo geral à internet, ou aos conteúdos nela armazenados.
AVATAR: O ALTER EGO DA WEB
Mas a "virtualidade" de algo não é sua presença na internet ou em meios de comunicação em geral, mas sim a clonagem de sua realidade, que se passa por real.
Segundo Paul Virilio:
"a observação direta dos fenômenos visíveis é substituída por uma teleobservação na qual o observador não tem mais contato imediato com a realidade observada. Se este súbito distanciamento oferece a possibilidade de abranger as mais vastas extensões jamais percebidas (geográficas ou planetárias), ao mesmo tempo revela-se arriscado, já que a ausência da percepção imediata da realidade concreta engendra um desequilíbrio perigoso entre o sensível e o inteligível, que só pode provocar erros de interpretação tanto mais fatais quanto mais os meios de teledetecção e telecomunicação forem performativos, ou melhor: videoperformativos".
Além de todas as facilidades que a internet proporciona, ela também trouxe consigo novos padrões e formatos de relacionamento. Algo consideravelmente importante e relativamente novo foi o surgimento do avatar.
Segundo Calluf, o avatar corresponde à identidade e ao desempenho de papéis socialmente atribuídos ao indivíduo. Estas representações sociais permitem ao indivíduo comunicar-se com outros indivíduos e fazem com que ele se sinta pertencente a um grupo.
O problema do avatar, ou da persona, é que o indivíduo constroi uma identidade lúdica, uma representação social, paralela à realidade.
Em muitos casos, cria-se um perfil idealizado, que é uma representação virtual aspiracional, atraente para os demais usuários e com conteúdo que os agrade. Isso ocorre pela necessidade de vender sua imagem, e os demais usuários irão comprar apenas os mais interessantes, mais belos, mais cultos, como realmente ocorre no mundo real.
VIVE-SE O CIBER ESPAÇO
Mas em determinado momento, o usuário não consegue dissociar a realidade física da realidade da internet . Baudrillard afirma que “as dimensões do próprio tempo confundem-se no tempo real”. O indivíduo passa a viver o virtual da internet, que passa a parecer mais real que a sua própria realidade.
A sua vida na internet, desejada, agora é o palco principal e o mundo fora dela é menos real.
Em um ambiente facilmente adaptável, qualquer um pode encontrar pessoas com quem se relacionar e modos de se sentir desejado e bem-sucedido.
À medida que o indivíduo se relaciona com este meio, ele o absorve, e passa a desejar um envolvimento cada vez maior pela dificuldade de se dar igualmente bem fora da Internet, ou por achar que aquilo não deve ser feito fora do mundo "virtual".
A defesa de muitos que utilizam a internet para realizar seus desejos, é de que aquilo não é real. Conceitualmente não o é. Mas as representações serem virtuais, não quer dizer que os usuários a vejam como tal e não possam fazer uso delas em sua realidade, o que sabemos ser o que acontece.
“O sujeito realiza-se perfeitamente aí, mas quando está perfeitamente realizado, torna-se, de modo automático, objeto; instala-se o pânico”, diz Baudrillard, que também afirma que "Escamotear o acontecimento real e substituí-lo por um duplo, uma prótese artificial,(...) resume todo o movimento de nossa cultura".
Como sugeriu Max Scheler, o homem contemporâneo é o desertor da vida e, sobretudo, se contenta com substitutos do viver.
Podemos também abordar questões como a pedofilia, o turismo sexual, o tráfico de drogas, a apologia à violência, movimentos neonazistas, entre outras manifestações, que são fruto dos avatares dos usuários. Mas não é a internet a responsável por tudo isso.
A internet foi desenvolvida para facilitar as tarefas humanas. Mas é necessário que os indivíduos tenham consciência de como estas ferramentas podem influenciá-los, e de que são os indivíduos que influenciam o sistema, inicialmente.
O SEXO VIRTUAL
Na web é possível achar qualquer coisa, sobre qualquer assunto, e há vários ambientes criados para propiciar uma conversação e relacionamento em tempo real entre pessoas de lugares distantes, sendo possível trocar experiências profissionais entre colegas distantes ou iniciar um relacionamento amoroso com pessoas que você nunca viu.
E há aqueles que procuram nas salas de bate papo ou sites de relacionamentos um único e específico objetivo: o sexo virtual.
Algo interessante acontece para eles nos relacionamentos virtuais, pois você pode ser qualquer coisa, o que não é, ou um personagem, e vivenciá-lo como quiser, sem pudor, remorsos, vergonha ou timidez.
Sua mais bizarra fantasia pode, através da rede, ser totalmente vivenciada no campo virtual. Na internet não há fronteiras ou limites.
Entre os sites mais visitados na internet estão os pornográficos, onde vende-se imagens de todos os tipos.
ESPETÁCULO ORGIÁSTICO SEM FIM
Existem aqueles internautas que não estão interessados em conversas eróticas ou relacionamentos, mas apenas em olhar o sexo em si. Há ainda a possibilidade de assistir e mesmo interagir em tempo real através de webcam, onde alguém do outro lado demonstra sua performance, que pode ser pré-programada de acordo com sua vontade.
E então, quando tudo se dá a ver, percebemos que não há mais nada a ver. Não é o sexo que as pessoas querem, mas o espetáculo da banalidade, em toda sua nulidade, insignificância e plenitude.
A internet representa projetivamente tudo aquilo que a humanidade é. Ela é meio e não fim. Você pode se esconder, dissimular, fingir, representar, ou criar relações em seu imaginário e realizá-las no computador.
E o sexo virtual é apenas uma vertente de toda essa banalidade. Imagens ou situações, sejam vistas ou realizadas, fotograficamente, imaginadas ou assistidas, são virtualizadas e vivenciadas como espetáculo. Goza-se com o sexo virtual, com relações ingênuas, com intrigas ou com o bulliying (também com a violência de todos os tipos). E é só o começo.
O homem moderno transformou sua realidade em realidade experimental, sem destino, não somente na internet, mas ela é o grande potenciador da pós modernidade.
Acabam se entregando a uma experimentação sem limites consigo mesmos. E o experimental é sempre desesperado, daí as verificações desesperadas, simplesmente levadas a seu limite.
O desespero do gozo a qualquer custo nunca é alcançado - pois na banalidade o que importa é o durante a orgia, embora o gozo final seja o suborno, nunca é o bastante. (O termo orgia é utilizado na obra Telemorfose, de Jean Baudrillard, tendo o significado de lúdico, e não estritamente o sexual)
O GOZO DA NULIDADE
E na Internet, são realizados os desejos, e o desejo de não ser Nada, e ser olhado enquanto tal. E assim se fazer desaparecer, exibindo delirantemente sua nulidade. Daí a necessidade de não ser visto, mas ser visível.
Tira-se a roupa para aparecer, no reino das aparências.
E em troca de quê?
É tudo em troca de nada. Recebe-se uma exaltação máxima por uma qualificação mínima, por ausência total de mérito. Beatificação do homem sem qualidade.
"Fazer-se nulo para ser visto e considerado como nulo é a última proteção contra a obrigação de existir e a obrigação de ser si mesmo." Baudrillard
O que vemos é uma corrida da sociedade para a insignificância, frente à sua própria banalidade. E é inútil culpar os meios por isso.
O VIRTUAL EXISTE ANTES DA WEB: MAS SE INSTALOU PERFEITAMENTE
Na internet as pessoas mentem, omitem, dissimulam e fingem... E por acaso não fazem isso na vida real?
O signo da promiscuidade está nas pessoas, mas se achando em um ambiente onde acham abolidas as leis da sociedade, se unem a seus milhões de gêmeos, zumbis autocomunicantes em experimentações banais consigo mesmos inteiramente desesperados.
É o homem convertido em seu próprio rato de laboratório.
A imersão na banalidade é o equivalente a um suicídio da espécie, um crime perfeito, no qual vítima e assassino são a mesma pessoa.
NATUREZA HUMANA?
Somos seres sexuados, mas sexuais? Precisamos de sexo para algo mais além de nos reproduzir?
Somos socializados - às vezes até à força - mas seres sociais, que prezam pela vida em sociedade ?
Podemos ser realizados.... Mas reais?
Isso tudo acaba sendo apenas ... virtual.
E quem manipula essa população a experimentações, suicídio e imersão na banalidade total?
Ninguém. As escolhas de cada ser, seguindo seus impulsos e instintos banais, achando-se à prova de enganos e desejando ter satisfeitos os seus desejos, os tornam seus próprios carcereiros.
Irreais, presos em sua própria virtualização de vida e experimentações banais.
Otima analise.
ResponderExcluirParabens.
Adorei td que disse , estarei seguindo ...
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