Sociedade Imbecilizada

A Qualidade Trocada Pela Superficialidade

"A televisão é como a torradeira americana, você aperta o botão e a mesma coisa salta toda a vez."

Alfred Hitchcock

O que realmente é a televisão para nossa sociedade?

O audiovisual, ou a imagem-movimento com som, faz com que nós tenhamos certa comodidade ao ato de pensar. Já que grande parte dos signos (valores e conceitos) já vem mastigado e padronizado à nossa mente.

Poderia ser uma ótima maneira de proporcionar aprofundamento em determinados assuntos, embasando e elucidando-os de forma didática e cognitiva. Mas não é desta forma que acontece.

A televisão é uma tecnologia sem feedback, ou seja, é uma mídia que não proporciona o direito de nos expressarmos ou interagirmos através de resposta alguma. Ao contrário, ela apenas joga informações prontas para nós engolirmos e digerirmos, quer gostemos ou não.

Atualmente, a maioria da população não é mais idiota o suficiente a ponto de acreditar ou ter a mesma opinião de que as personalidades ou pseudointelectuais que aparecem na tv - só pelo fato de estarem lá.

Mas precisam saber que os cabeças da televisão, os que pensam a comunicação, não esperam controlar o seu jeito de pensar, compreendem que o ser humano é incerto. O que eles sabem é que a massa é silenciosa, e que tem o poder de ditar o que se pensar.

Seja digerindo ou vomitando. Eles proporcionam o alimento, e vocês continuam comendo.

Resumindo, não manipulam como se pensar, mas no que se pensar!

Não existe nenhuma magia nos comunicadores que fazem a tv. Eles apenas se aproveitam da superficialidade e comodidade das pessoas ditas comuns. Através da brecha de crença, ou apenas não questionamento, em relação à importância do que se é transmitido, e ilusão de que tudo o que acontece ou existe de importante é transmitido pelo telejornal.

Não é o fato de não assistirem mais tv, longe disso. Não é uma visão extrema contra a televisão, afinal, ainda existe uma minúscula porcentagem dela que é boa, mesmo que minúscula.

Um dos motivos da existência dessa televisão que conhecemos é sua é função essencial de obtenção de audiência, mercado - lucro. Desta forma constrói-se a programação de acordo com o calcanhar de Aquiles da sociedade, ou seja, estimula-se as vontades, desejos e lúdico social, não havendo importância alguma com a construção de um ser mais evoluído. O contrário é o que acontece, é o ópio que é dado com segundas intenções, para depois ser vendido. Não há preocupação com o pensar - o que é importânte são os interesses econômicos e de poder.

Se aproveitam da debilidade de se pensar, preguiça mental, afastando, ainda mais, as condições à liberdade de percepção do mundo. "Foda-se a sabedoria e viva o prazer!" não é tão livre olhando por este ponto de vista.

Todo este espetáculo televisivo transforma-se em um circulo vicioso pelo qual a cada dia as pessoas enterram-se mais e mais na imbecilidade.

Segundo o crítico televisivo Pierre Bordieu, a realidade em que vivemos através da mídia televisiva é a de opressão, sem direito a democratização.

Bordieu diz:

"A tevê é feita para pessoas imbecis." A tv possui seus padrões, é quase impossível conseguir qualidade em toda sua superficialidade e imbecilidade.

Segundo Bordieu, a tv é uma mídia manipuladora, pois são sempre os mesmo que escolhem a mensagem a ser transmitida, não existe democracia social alguma. Quase ninguém tem a oportunidade de ocupar um espaço no tempo de transmissão e dizer o que queira.

Obviamente, Bordieu também não concorda com o modo de subterfúgio com o que fazem da tv, mas não fica na teoria, e compra a briga, sempre lutando pelo fim da opressão. O crítico costuma ser convidado para participar de programas de tv, já que ele é um dos maiores intelectuais da comunicação, e mostra como driblar pelo menos um pouco a superficialidade e imbecilidade da tevê:

Ao ir a um programa, Bordieu deixa bem claro que o assunto sobre o qual ele vai falar será decidido por ele, e poderá mudar se quiser, e quando quiser. Não aceita perguntas idiotas dos jornalistas ou apresentadores – que buscam apenas audiência e entretenimento para a massa, e também não aceita ser interrompido no meio de seu raciocínio para o que quer que seja.

Ainda assim, Bordieu diz que a televisão ainda é padronizada, diz que seria necessário, muitas vezes, programas com algumas horas seguidas e sem intervalos para que assuntos importantes fossem discutidos e compreendidos com raciocínios complexos. Coisa que 15 minutos da tevê, e ainda repleto de perguntas idiotas, não conseguem nem esboçar.

Um dos modos para escaparmos da manipulação da tevê é através de livros relacionados com sociologia, antropologia, semiótica e filosofia. Pois neles aprendemos a ter senso crítico, conhecimento que devemos carregar conosco em todos os lugares.

Procurar informações na internet, assistir a um filme, escutar um professor falar, ouvir uma música, e observar a vida e o mundo, são fatores muito importantes também, mas há de se ter cuidado para não usarmos nossa antiga mente imbecilizada, pela tv, na nossa percepção, e confundirmos o espetáculo superficial de alguns destes, com um aprofundamente e qualidade.

Perguntas como:

Por que estou parado na frente da tevê, apenas me entretendo?
Por que eu escuto qualquer tipo de música?
Eu não me importo com a qualidade? Eu sei a importância da qualidade?
Será que eu apenas estou descansando meu cérebro pra eles continuarem me usando?
Será que eu não sou nada além de um ser pacífico que aceita tudo o que me é imposto?
Eu aprendi a gostar do que me é jogado goela abaixo?
Aquilo que eu considero correto, realmente é? Qual é meu método de julgamento? Creditaria tal método se fosse usado por outro?
Eu realmente tenho escolha?

Segundo Bordieu, a sociedade está catequizada pela tv. No final das contas, a escolha é sua.