Desde o aparecimento do Homo Sapiens, a mente humana foi dominada por inúmeros erros e ilusões.
O maior erro seria subestimar o próprio problema do erro, e a maior ilusão seria subestimar o problema da ilusão, sendo que o reconhecimento de erros e ilusões é extremamente difícil.
Mas todo conhecimento acarreta o risco do erro e da ilusão, uma vez que as nossas percepções são reconstruções cerebrais que têm como base os nossos sentidos.
As possibilidades de erro e ilusão vindas do interior fazem com que as mentes se equivoquem a partir de si próprias e sobre si mesmas, e vindas do exterior inibem a autonomia da mente e impedem a busca da verdade.
Os nossos desejos, medos, perturbações mentais, a raiva, o amor, ou a amizade, podem nos cegar. Assim, poderíamos acreditar na possibilidade de se eliminar o risco de erro através da anulação da afetividade. Mas o desenvolvimento da inteligência é inseparável do mundo da afetividade. Temos como exemplo a curiosidade e paixão que impulsionam as pesquisas filosóficas e científicas.
A razão não é um estágio superior à emoção, como se pensou por muito tempo, mas, de certo modo, as emoções são indispensáveis à racionalidade, sendo por isso necessário uma ligação entre a a intelectualidade e a afetividade - um eixo intelecto-afeto, como descreve o antropólogo Edgar Morin.
Um racionalismo que ignore os seres, a subjetividade, a afetividade e a vida é totalmente irracional.
O cérebro não é capaz de distinguir a alucinação da percepção, o sonho da vigília, o imaginário do real, o subjetivo do objetivo. Assim, há em nós um mundo psíquico relativamente independente, em que fermentam necessidades, sonhos, desejos, ideias, imagens, fantasias, e este mundo infiltra-se em nossa visão ou concepção do mundo exterior.
Cada mente é dotada também de potencial de mentira para si próprio (self-deception), e a memória, inconscientemente, tende a selecionar as lembranças que nos convêm e até mesmo apagar as desfavoráveis. Portanto, até a memória pode estar sujeita aos erros e as ilusões.
As ideias também não são somente produtos da mente, mas seres mentais que têm vida e poder, podendo até mesmo possuir-nos. Os mitos passaram a ser realidade baseadas nas fantasias formadas por nossos sonhos e nossa imaginação. As ideias viraram realidade através dos símbolos e dos pensamentos de nossa inteligência.
Mitos e ideias nos invadiram, nos deram emoção, amor, raiva, fúria. Eles parasitaram a consciência, tornando as pessoas inconscientes e com a ilusão de que eles - os mitos e ideias - são seres conscientes.
Na busca pela verdade, a auto-observação deve ser inseparável da observação, a autocrítica inseparável da crítica, a reflexão inseparável da objetivação.
As idéias que nos possuem justamente devem ser as de crítica e autocrítica, de complexidade.
O que permite a distinção entre vigília e sonho, imaginário e real, subjetivo e objetivo, é a atividade racional da mente, a racionalidade. Mas até a racionalidade traz a possibilidade de erro e de ilusão quando se transforma em racionalização.
A racionalização parece racional porque constitui um sistema lógico, fundamentado na dedução ou na indução, mas com bases falsas, e nega a contestação de argumentos e a verificação.
A verdadeira racionalidade é aberta por natureza, segue a lógica e a instância empírica, decorre da argumentação de idéias.
É preciso evitar o idealismo e a racionalização e estar sempre alerta à mentira em si mesma e para si mesmo.
A racionalidade deve reconhecer a parte da afetividade, conhecer os limites da lógica, ser autocrítica, e principalmente saber que a mente humana está submetida a erros e ilusões.
Nussa... vc pode escrever um livro já... rsrs... Fico bem interessante o texto. A emoção e a razão tem que ser relacionadas uma com a outra. Não são características q sobrevivem sozinhas. Para todas as nossas atitudes usamos um pouco de cada uma pra decidir.
ResponderExcluirMuito interessante o texto, tenho que visitar mais este blog XD
ResponderExcluirEstudar a mente, é algo fascinante, mas muito complexo, pois é neste estudo que a "coisa" observada é o próprio observador e vice-versa.
Então analisando, temos um momento X da mente. A mente tenta se analisar e chega a uma conclusão Y sobre a própria mente, desta forma a mente é agora X+Y (ou algo tipo, é só um exemplo). O que quero dizer, é que estudar a mente é círculo vicioso, pois no momento que se chega a uma conclusão sobre a mente, mente já "mudou" devido a conclusão. É um ciclo, teoricamente sem fim.
Uma coisa que eu não entendi no seu artigo foi a parte:
"As idéias também não são somente produtos da mente, mas seres mentais que têm vida e poder, podendo até mesmo possuir-nos."
- O que você quis dizer com isso?
vlw, até mais.
"As idéias também não são somente produtos da mente, mas seres mentais que têm vida e poder, podendo até mesmo possuir-nos."
ResponderExcluirAqui está sendo tratado o Idealismo, que é a possessão do real pela idéia, que é diferente da Idealidade, que é o modo de existência necessário à Idéia para traduzir o real.
Assim como os mitos, as idéias infiltram-se em nossa visão do mundo exterior.
Do modo como o cérebro não consegue distinguir o imaginário do real e subjetivo do objetivo, as idéias acabam virando realidade, dominando as pessoas. Por isso vemos pessoas capazes até mesmo de morrer por um deus, ou por uma idéia. Para eles, a idéia deixa de ser algo que eles criaram passando a ter "vida própria".
O idealismo dá emoções e desejos às pessoas, de modo que elas vivam para a sua ideologia, chegando a um ponto em que não vivem mais para elas próprias, não acreditam mais nem em seus pensamentos, mas sim, somente nessa idéia que se torna uma fé sagrada e que não é julgada senão por ela mesma.
Lenine disse que os fatos eram inflexíveis. Mas o que ele não percebeu é que essa idéia-fixa dele era ainda mais inflexível.
O mito e a ideologia destroem e devoram os fatos e a percepção do real.
"As idéias também não são somente produtos da mente, mas seres mentais que têm vida e poder, podendo até mesmo possuir-nos."
ResponderExcluirAntes de ler seu post explicando, tive a impressão de que isso tinha sido inspirado pelos livros do zoólogo de Oxford, Richard Dawkins. Ele tem uma teoria que aparentemente é bem pareceida com o que foi dito no blog: a memética.
Acho que dependendo do que se está pesquisando, talvez seja preciso, e possível, usar somente a razão. NESSES CASOS, a emoção seria um combustível para impulsionar o início da investigação, mas ela não devesse ser usada com agente investigador aliado à racionalidade.
OBS: somente em algumas disciplinas esse meu raciocínio é válido.