A civilização da 1º Onda vivenciou a fase agrícola, a 2º Onda aconteceu na fase industrial e a fase que iniciamos agora é a 3º Onda, a Era da informação, na qual o tecido de nossas vidas é a galáxia da internet e a sociedade em rede.
A tecnologia da informação é hoje o que a eletricidade foi na Era Industrial. Essa tecnologia transmite informações através de uma rede, que é o conjunto de nós interconectada pelo mundo: a internet.
A formação de redes é uma prática humana que durante a maior parte da história humana, diferentemente da evolução biológica, foram suplantadas como ferramentas capazes de organização com a capacidade de congregar recursos em torno de metas centralmente definidas, alcançadas através da implantação de tarefas em cadeias de comando e controle verticais e racionalizadas. As redes eram fundamentalmente o domínio da vida privada; as hierarquias centralizadas eram o feudo do poder e da produção.
Com o objetivo de aumentar a liberdade do usuário ao navegar, a Web 2.0 foi contextualizada, em 2004, após uma conferência.
A partir disso, uma nova fase começou, e projetos como Wikipédia, Orkut, a construção coletiva do Linux e a consolidação da Amazon surgiram.
DIVISÃO ECONÔMICA, SOCIOLÓGICA E ANTROPOLÓGICA
Econômica: A cultura empresarial trabalha, ao lado da cultura hacker (voltada a projetos tecnológicos) e da cultura comunitária virtual (interação social e simbólica), para difundir práticas da Internet em todos os domínios da sociedade como meio de ganhar dinheiro.
A Internet foi o meio indispensável à força propulsora na formação da nova economia, erguida em torno de normas e processos novos de produção, administração e cálculo econômico.
O ponto-chave é que eles ganham dinheiro com idéias, numa época em que a falta de novas idéias levava empresas estabelecidas a perdas financeiras. Assim, a inovação empresarial foi a força propulsora da economia da internet, e não o capital.
A realização do potencial de transformar poder mental em dinheiro tornou-se a pedra angular da cultura empresarial e da indústria da internet em geral.
Idéias eram vendidas aos capitalistas de risco, permitindo assim investimentos que as transformavam em negócios. E essas idéias, corporificadas como companhias (com ou sem produtos, com ou sem lucros), eram vendidas a investidores através de ofertas públicas na bolsa de valores.
O dinheiro torna-se o parâmetro do sucesso e, o que é igualmente importante, da liberdade em relação ao mundo empresarial tradicional. Para empresários a única maneira de se libertar do capital é ser capaz de atrair-lo por si mesmo, fazê-lo de maneira a poder controlar uma parcela suficientemente grande da riqueza futura a vir dos investidores.
Enquanto os investidores financeiros tentam ganhar dinheiro prevendo o comportamento futuro do mercado, ou simplesmente apostando nele, os empresários da internet vendem o futuro porque acreditam poder fazê-lo. O ponto crítico é convencer os mercados financeiros de que o futuro está ali, e depois tentar vender a tecnologia aos usuários – de qualquer maneira – fazendo a previsão funcionar.
A essência do negócio eletrônico é enxuta, construída em torno de projetos específicos, está na conexão em rede, interativa, baseada na Internet, entre produtores, consumidores e prestadores de serviços. É a capacidade de interagir, recuperar e distribuir qualidade, de maneira personalizada, que está na fonte da redução de custo, da complexidade, eficiência e satisfação do comprador – a menos que a administração da complexidade derrube o sistema, como tantas vezes acontece, indignando os consumidores que compreendem que, provavelmente, são as cobaias desse novo modelo de empresa.
A Internet acrescenta ao modelo de negócio da empresa de rede uma capacidade de se desenvolver organicamente com inovação, sistemas de produção e demanda de mercado, mantendo ao mesmo tempo a atenção focada na meta suprema de qualquer negócio: ganhar dinheiro. O problema, no entanto, é que a maneira de ganhar dinheiro não é tão direta quanto costumava ser na era industrial. Isso por que as redes de computador transformaram também os mercados financeiros, o lugar em que o valor de todos os negócios é estipulado em última instância.
O trabalho da economia eletrônica depende exclusivamente da qualidade e autonomia de seus profissionais, que devem ser capazes de navegar tanto tecnicamente, quando em termos de conteúdo, nesse profundo mar de informações. Não é medido simplesmente em anos de educação e aprendizado, mas em tipo de educação, e em primeiro lugar, aprender a aprender, já que a informação mais específica tende a ficar obsoleta em poucos anos, pois esta economia muda literalmente com a velocidade da internet.
A informação é distribuída, produzida e consumida e de forma fragmentada pelo próprio público que, organizado em redes de relacionamento social se utiliza da internet como backbone principal para conectar vários dispositivos como computadores, celulares, vídeo games, Ipod, Iphone, etc.
Essa mudança causa um impacto de volume e velocidade de propagação da informação crescente, a credibilidade é constituída pela lista de contatos, locais e momentos de propagação de informação são móveis, a atenção com a informação se torna mais superficial pelo excesso.
Resumidamente, é uma economia baseada no conhecimento, na informação e em fatores intangíveis, a inovação é a função primordial.
Sociológica: A visão sociológica da Web 2.0 traz novos padrões de interação social. Por um lado, a formação de comunidades virtuais, baseadas, sobretudo, em comunicação on-line, foi interpretada como a culminação de um processo histórico de desvinculação entre localidade e sociabilidade na formação da comunidade: novos padrões seletivos de relações sociais substituem as formas de interação humanas territorialmente limitadas.
Por outro lado, críticos da internet e reportagens da mídia, por vezes baseando-se em estudos de pesquisadores acadêmicos, sustentam que a difusão da internet está conduzindo ao isolamento social, a um colapso da comunicação social e da vida familiar, na medida em que indivíduos sem face praticam uma sociabilidade aleatória, abandonando ao mesmo tempo interações face a face em ambientes reais.
Além disso, dedicou-se grande atenção a intercâmbios sociais baseados em identidades falsas e representações de papeis. Assim, a internet foi acusada de induzir gradualmente as pessoas a viverem suas fantasias online, fugindo do mundo real, numa cultura cada vez mais dominada pela realidade virtual.
Os adolescentes são os usuários mais afetados, já que estão em processo de descobrimento de sua identidade, de fazer experiências com ela, de descobrir o que realmente gostam ou gostariam de ser, oferecendo assim um fascinante campo de pesquisa para a compreensão da construção e da experimentação da identidade. No entanto a proliferação de estudos sobre esse assunto distorceu a percepção pública da prática social da Internet, mostrando-a como o terreno privilegiado para as fantasias pessoais, o que ela não é.
As pessoas que vivem vidas paralelas na tela são, não obstante, limitadas pelos desejos, a dor e a mortalidade de suas pessoas físicas. As comunidades virtuais oferecem um novo contexto alegórico em que se pensar sobre a identidade humana na Era da Internet. De maneira semelhante, Nancy Baym, estudando comportamento de comunidades online, com base em seu estudo etnográfico dos r.a.t.s (um news group que discutia telenovelas), declara que “a realidade parece ser que muitos, provavelmente a maioria, dos usuários sociais da comunicação mediada por computador criam personalidades online compatíveis com suas identidades off-line”. Em suma, a representação de papeis é uma experiência social válida, mas não constitui uma proporção significativa da interação social na Internet hoje.
Contrariando alegações de que a Internet seria ou uma fonte de comunitarismo renovado ou uma causa de alienação do mundo real, a interação social na Internet não parece ter um efeito sobre a configuração da vida cotidiana geral. Exceto por adicionar interação on-line às relações sociais existentes. Assim, Katrina Tracey, relatando um grande estudo longitudinal sobre usos domésticos da Internet no Reino Unido, realizado pela Telecom britânica, não observa muita diferença entre usuários e não usuários da internet em seu comportamento social e vida cotidiana, depois de introduzidos os controles adequados para variáveis sociais e demográficas.
Se alguma coisa pode ser dita, é que a Internet parece ter um efeito positivo sobre a interação social, e tende a aumentar a exposição a outras fontes de informação. Di Maggio, Hargittai, Neuman e Robinson relatam resultados de levantamentos de participação pública que mostram que usuários da internet freqüentavam mais eventos de arte, liam mais literatura, viam mais filmes, assistiam e praticavam mais esportes do que os não usuários.
Vários estudos feitos por sociólogos urbanos mostraram, anos atrás, que redes substituem lugares como suportes da sociabilidade nos bairros e nas cidades. Isso não quer dizer, contudo, que a sociabilidade baseada em lugar não exista mais. As sociedades não evoluem rumo a um padrão uniforme de relações sociais. De fato, é a crescente diversidade dos padrões de sociabilidade de constitui a especificidade da evolução social em nossas sociedades.
A cultura hacker gera a grande união entre indivíduos na internet, a qual visa cooperação e progresso da informação, cultura, tecnologia e liberdade. Além disso, essa cultura não visa o lucro e são totalmente fiéis uns aos outros, o que, sem dúvida nenhuma, é uma grande evolução sociológica para um indivíduo e sua integração à sociedade. Sem a cultura Hacker, as redes comunitárias na Internet não se distinguiriam de muitas outras comunidades alternativas.
Antropológica: O ser mais informado, porém superficial. Embora o conteúdo qualitativo também exista, ainda é massacrado pelo quantitativo obsoleto.
Estudos realizados por Barry Wellman e colegas, e pelo “Internet and American Life Project” do Pew Institute, sobre o individualismo em rede, parecem indicar que a internet é eficaz na manutenção de laços fracos, que de outra forma seriam perdidos com o esforço para se envolver em interação física (inclusive interação telefônica) e o valor da comunicação.
A internet parece também desempenhar um papel positivo na manutenção de laços fortes a distancia. Já se observou muitas vezes que relações de família pressionada pela crescente disparidade das formas de família, pelo individualismo e, por vezes, pela mobilidade geográfica, estão sendo ajudadas pelo uso de e-mail. Não só o e-mail fornece um instrumento fácil para “estar ali” a distância, como torna mais fácil marcar presença sem se envolver numa interação mais profunda para qual não se dispõem de energia emocional naquele dia.
Mas o papel mais importante da internet na estruturação de relações sociais é sua contribuição para o novo padrão de sociabilidade baseado no individualismo. De fato, como o Wellman, escreve, “redes sociais complexas sempre existiram, mas desenvolvimentos tecnológicos recentes nas comunicações permitiram seu advento como uma forma dominante de organização social”. Cada vez mais, as pessoas estão organizadas não simplesmente em redes sociais, mas em redes sociais mediadas por computador.
Assim, não é a internet que cria um padrão de individualismo em rede, mas seu desenvolvimento que fornece um suporte material apropriado para a difusão do individualismo em rede como a forma dominante de sociabilidade.
O individualismo em rede é um padrão social, e não um acúmulo de indivíduos isolados. O que ocorre, é que indivíduos montam suas redes, online e off-line, com base em seus interesses, valores, afinidades e projetos.
O indivíduo é capaz de ser tão bem informado quanto seus líderes ou até ser o ponto que influencia as mídias, que por vez, influencia os lideres de opinião.
A emancipação do indivíduo foi talvez a maior e a melhor vitória, pois através da liberdade de interação e conteúdo, o ser além de ter livre acesso, a qualquer informação, também não precisa necessariamente receber apenas a informação, pode também interagir com ela (o texto digital é mais flexível, pode ser reconstruído, melhorado e complementado após ser publicado e a sua estrutura por ser constituída por “links”, que facilitam complementar a informação), produzir e distribuir.
A internet não está como um instrumento de liberdade para o indivíduo, nem tampouco uma arma de dominação unilateral. Na verdade, a liberdade nunca é uma dádiva, e sim uma luta constante; é a capacidade de redefinir autonomia e por a democracia em prática em cada contexto social e tecnológico. A internet encerra um potencial extraordinário para a expressão dos direitos dos cidadãos e a comunicação de valores humanos. A Internet põe as pessoas em contato numa ágora pública, para expressar suas inquietações e partilhar suas esperanças.
Essa é uma das evidências de que, ao mesmo tempo que deram liberdade ao indivíduo, também o censuraram. É a livre empresa (uma grande ironia das instituições capitais na defesa da liberdade) o ingrediente essencial para a construção desse sistema de vigilância – apesar de boa vontade geral e da ideologia libertária da maior parte das companhias da Internet, ainda mantem-se o pensamento direitista arcaico.
Biografia - Manuel Castells: Nascido na Espanha em 1942, Castells é professor de sociologia e planejamento regional na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Ingressou na UOC, após lecionar por 12 anos na Universidade de Paris, na França. Conferencista convidado de instituições acadêmicas e profissionais em mais de 35 países, ainda publicou 20 livros ao longo de sua vida, sendo autor de todos eles. Entre suas obras, destacam-se A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura (Paz & Terra) e A Galáxia da Internet (Jorge ZAHAR editor). Foi integrante do Grupo Especializado de alto nível sobre a Sociedade da Informação em sua comissão Européia no período 1995/1997, e ainda integrou o Conselho Consultivo sobre Tecnologias da Informação e Comunicação, no Secretariado Geral das Nações Unidas, nos anos de 2000 e 2001.
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ResponderExcluirO que mais me chamou a antenção neste texto todo, foi a seguinte frase: "O ser mais informado, porém superficial. Embora o conteúdo qualitativo também exista, ainda é massacrado pelo quantitativo obsoleto."
Acredito estarmos vivendo o "boom" da era da comunicação, embora esta não esteja organizada, quantas vezes não nos perdemos na internet pela quantidade truncamentos encontrados na distribuição de tais informações.
Estava relendo o texto do Debord, que o Marcelo passou pra gente, descobri a existência desse livro no acervo da faculdade (detalhe: pelo portal da faculdade na internet rs), devo pegá-lo amanhã.
Incrível, o mesmo passo dado à frente nos retrocede pela preguiça humanada e a procrastinação, tantos conteúdos inteligentes, interessantes, acrescentadores e somos dispersos pelo entretenimento barato deste mesmo meio de comunicação.
Gosto do conteúdo do seu blog.
Continue assim.
Abraço
Guilherme Delamura
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