sábado, 4 de abril de 2009

O obtuário da comunicação

O abismo entre um mundo e outro






Vivemos em um mundo mediado por linguagens, e estas são o que nos ligam a outros seres com percepção, ou ao menos tentam.

A relação do Homem com a comunicação está falida até com o seu próprio mundo. Os pensamentos movem-se através de referências, as frases já não possuem autenticidade, as pessoas já não saem da sua própria dimensão para comunicar-se, o sentido das coisas já não precisa existir.

Fingem e acreditam que a sua simulação é real, que sua vontade é autentica. No entanto, é tudo movido através de algo que já está programado e delimitado pela própria percepção.

A na verdade que consideramos o que enxergamos como a própria realidade, é a base de toda ilusão.

Tudo aquilo que pensamos, dizemos e acreditamos é apenas o reflexo da nossa instalação. E não passa de uma atenticidade de 2°grau - falsa.

Neste texto embasaremos a linguagem falada entre os seres humanos e a explicaremos:

Nós utilizamos a linguagem quando falamos de coisas e idéias para atingir alguém.
Por isso é comum parecer que o auge da linguagem é quando se expressa alguma coisa ( "está chovendo", "o dia está bonito", "o homem é mortal") pois é mostrado o estado das coisas e não parece haver nada mais a desejar, vamos de encontro ao objeto designado.
Exprimir, então, é apenas substituir uma percepção ou idéia por um sinal que a represente.
A língua é para nós este aparelho fabuloso que permite exprimirmos um número infinito de pensamentos através de um número finito de sinais, pois estes foram escolhidos para poderem representar qualquer coisa que se possa querer dizer, contêm todas as significações possíveis e, para nós, todos os nossos pensamentos estão destinados a serem ditos pela língua, como se toda significação tivesse sua fórmula e encontrássemos no fundo de cada coisa, uma palavra que as "fez".

Mas essas são convicções do senso comum.

A linguagem liga significações a um sinal, fixando uma relação perfeita, que é representada por símbolos. Símbolos esses que, eles próprios, não são nada, e nunca dirão nada, a não ser o que se convencionou a fazê-los dizer.
O sinal deve ser simples abreviação de um pensamento que poderia ser muito maior e mais complexo do que está sendo exposto.

A virtude da expressão é que substituimos nossos pensamentos confusos por um único, do qual somos responsáveis porque sabemos o alcance que terá quando expresso por sinais insignificantes por si mesmos mas que adquirem o significado desejado quando neles são colocados o pensamento.

O pensamento encontra nos sinais o que ele ali colocou, eles se parecem com o que exprimem, pois não concebemos nesse mundo coisas ou idéias que não venham ao mundo através de palavras.
Tudo o que é ou será, no momento em que é concebido, já se prepara para ser dito.

Quando vamos falar ou escrever somos primeiramente mudos, inclinados para o que queremos significar, o que vamos dizer. É aí que uma palavra vem em nosso socorro e nos tira do silêncio, dando a ele um equivalente justo, tão justo que é capaz de devolver a nós nosso próprio pensamento caso o esqueçamos.

Trata-se de encontrar na linguagem a frase que exprima o pensamento (já que a lingua exprime tudo o que se possa dizer), de captar as palavras que o ser murmura.
A comunicação não tem mistério.

Mostro aos outros um pensamento fora de mim do mesmo modo como aponto com o dedo para um objeto que está no campo visual dos outros.

Não há virtude ou nenhum poder escondido na palavra, é apenas sinal de uma significação, como se a palavra fosse o meu dedo apontando para algo.
O pensamento se sabe e se basta, apenas se notifica exteriormente por uma mensagem que não o contém, mas designa-o sem erros por outro pensamento que é capaz de ler a mensagem porque ele atribui a mesma significação aos mesmos sinais.

Podemos dizer que quem fala cifra seu pensamento, como se o substituísse por um arranjo sonoro ou visível que pode ser entendido pelos outros porque eles sabem ler essa cifra.

Mas nós não encontramos nas palavras do outro nada além do que nós mesmos colocamos nelas.

A comunicação é uma aparência, não comunica nada de realmente novo.

Afinal, compreendo o que me dizem porque sei o sentido das palavras que me dirigem e enfim só compreendo o que sei e coloco a mim mesmo os problemas que posso resolver.
"Você é a sua própria resposta ou: a sua própria pergunta e já uma resposta"

Pois como entenderíamos algo se os sinais não nos dissessem nada, se não possuíssemos a sua significação?

A notícia de uma morte, por exemplo, não é exatamente uma novidade.
Só a recebo porque sei que mortes e desastres são possíveis.

Mas claro, não é essa a experiência que se tem da linguagem: ama-se bater papo e acredita-se na virtude da comunicação.

Todos sabem sim que uma notícia é apenas uma notícia, mas ao invés de refletirem sobre a linguagem, preferem vivê-la.
Quando um fala e o outro escuta, pensamentos são reproduzidos de um ao outro, mas infelzimente, para as pessoas que não sabem ler a própria linguagem, jamais se defrontam, consequentemente, tudo se passa como se não tivesse havido linguagem.

O discurso circula intistivamente entre o receptor e o emissor, e o entendimento não transita além do interior de cada um.

À medida que conseguimos nos exprimir, a linguagem desaparece, se faz esquecer.

Como quando leio um livro e não vejo a página, todos os sinais e folhas, mas sim, vejo e atinjo o acontecimento, a aventura, e posso reviver a leitura recordando mais tarde de tal momento, tal reviravolta, como se tivesse visto ou vivido aquilo.
Quando alguém sabe exprimir-se (em uma conversa ou uma carta, por exemplo), os sinais são logo esquecidos, só permanece o sentido e a perfeição da linguagem passa despercebida.
E é essa a virtude da linguagem: ela nos atira ao que significa, seu maior triunfo é apagar-se e nos dar acesso não às palavras, mas ao próprio pensamento.


Digamos que há duas linguagens: a linguagem falada, de depois, que é adquirida e desaparece diante do sentido que é portadora; e a linguagem falante, que se faz no momento da expressão e me faz deslizar dos sinais ao sentido.

Uma lingua é capaz de falar de algo que nunca foi visto, mas só o pode porque o novo é feito de elementos antigos.
Existem significações-chave que podem fazer qualquer significação nova a partir delas e a expressão se exprime porque conduz nossas experiências ao sistema de correspondências inicial entre tal sinal e sua significação.


Possuo o poder de ultrapassar a leitura que faço pelo fato de ser sujeito falante, gesticulador linguístico, como minha percepção só é possível através de meu corpo.

Só se pode perceber o poder da linguagem quando se dá conta dessa linguagem operante que aparece quando a linguagem convencional ordena-se para ensinar algo novo, o que eu não sabia pensar ou dizer.

Dou meu conhecimento da língua, contribuo com o que sei sobre o sentido dos sinais, dou minha experiência dos sentidos e acontecimentos que conheço e o interlocutor se instala em meu mundo. Depois, ele desvia os sinais de seu sentido comum e me arrasta para outro sentido que vou alcançar.


Eu me aproximo dele até que enfim ouça ou leia suas palavras na própria intenção que as disse ou escreveu e induzo em mim seu pensamento, podendo assim ser capaz de compreendê-lo.


Quando a linguagem funciona verdadeiramente não é apenas convite para descobrir significações que ali já estejam, a comunicação se dá com o acoplamento da linguagem com o pensamento, quando passo a compreender o pensamento e não os sinais da linguagem.


Deve-se entender que as linguagem são os meios para se atingir o pensamento, elas são apenas uma significação e não tem significação.
Mas o que acontece é que a linguagem é elevada a uma condição de verdade na qual antes de ser uma significação, ela tem significação.

É preciso ter em mente que o sentido das palavras é nos dar acesso a algo e não à elas e que, de fato, elas não contêm nada em si, apenas um significado que deve nos levar ao que realmente importa: um pensamento.

A linguagem é a mediação entre o abismo de cada dimensão perceptiva nas quais os Homens vivem.

O grande sentido da comunicação não é passar mensagens, não é nos comunicar coisas que já sabemos. Mas seu verdadeiro sentido é fazer com que a constelação do sinais existentes nos guie para uma significação que não estava em nenhum lugar antes dela.

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