Vivemos em um mundo mediado por linguagens, e estas são o que nos ligam a outros seres com percepção, ou ao menos tentam.
A relação do Homem com a comunicação está falida até com o seu próprio mundo. Os pensamentos movem-se através de referências, as frases já não possuem autenticidade, as pessoas já não saem da sua própria dimensão para comunicar-se, o sentido das coisas já não precisa existir.
Fingem e acreditam que a sua simulação é real, que sua vontade é autentica. No entanto, é tudo movido através de algo que já está programado e delimitado pela própria percepção.
A fé na verdade que consideramos o que enxergamos como a própria realidade, é a base de toda ilusão.
Tudo aquilo que pensamos, dizemos e acreditamos é apenas o reflexo da nossa instalação. E não passa de uma atenticidade de 2°grau - falsa.
Neste texto embasaremos a linguagem falada entre os seres humanos e a explicaremos:
Por isso é comum parecer que o auge da linguagem é quando se expressa alguma coisa ( "está chovendo", "o dia está bonito", "o homem é mortal") pois é mostrado o estado das coisas e não parece haver nada mais a desejar, vamos de encontro ao objeto designado.
Mas essas são convicções do senso comum.
A linguagem liga significações a um sinal, fixando uma relação perfeita, que é representada por símbolos. Símbolos esses que, eles próprios, não são nada, e nunca dirão nada, a não ser o que se convencionou a fazê-los dizer.
A virtude da expressão é que substituimos nossos pensamentos confusos por um único, do qual somos responsáveis porque sabemos o alcance que terá quando expresso por sinais insignificantes por si mesmos mas que adquirem o significado desejado quando neles são colocados o pensamento.
O pensamento encontra nos sinais o que ele ali colocou, eles se parecem com o que exprimem, pois não concebemos nesse mundo coisas ou idéias que não venham ao mundo através de palavras.
Tudo o que é ou será, no momento em que é concebido, já se prepara para ser dito.
Quando vamos falar ou escrever somos primeiramente mudos, inclinados para o que queremos significar, o que vamos dizer. É aí que uma palavra vem em nosso socorro e nos tira do silêncio, dando a ele um equivalente justo, tão justo que é capaz de devolver a nós nosso próprio pensamento caso o esqueçamos.
Trata-se de encontrar na linguagem a frase que exprima o pensamento (já que a lingua exprime tudo o que se possa dizer), de captar as palavras que o ser murmura.
Mostro aos outros um pensamento fora de mim do mesmo modo como aponto com o dedo para um objeto que está no campo visual dos outros.
Não há virtude ou nenhum poder escondido na palavra, é apenas sinal de uma significação, como se a palavra fosse o meu dedo apontando para algo.
Podemos dizer que quem fala cifra seu pensamento, como se o substituísse por um arranjo sonoro ou visível que pode ser entendido pelos outros porque eles sabem ler essa cifra.
A comunicação é uma aparência, não comunica nada de realmente novo.
Afinal, compreendo o que me dizem porque sei o sentido das palavras que me dirigem e enfim só compreendo o que sei e coloco a mim mesmo os problemas que posso resolver.
Pois como entenderíamos algo se os sinais não nos dissessem nada, se não possuíssemos a sua significação?
A notícia de uma morte, por exemplo, não é exatamente uma novidade.
Só a recebo porque sei que mortes e desastres são possíveis.
Mas claro, não é essa a experiência que se tem da linguagem: ama-se bater papo e acredita-se na virtude da comunicação.
Todos sabem sim que uma notícia é apenas uma notícia, mas ao invés de refletirem sobre a linguagem, preferem vivê-la.
O discurso circula intistivamente entre o receptor e o emissor, e o entendimento não transita além do interior de cada um.
Como quando leio um livro e não vejo a página, todos os sinais e folhas, mas sim, vejo e atinjo o acontecimento, a aventura, e posso reviver a leitura recordando mais tarde de tal momento, tal reviravolta, como se tivesse visto ou vivido aquilo.
E é essa a virtude da linguagem: ela nos atira ao que significa, seu maior triunfo é apagar-se e nos dar acesso não às palavras, mas ao próprio pensamento.
Uma lingua é capaz de falar de algo que nunca foi visto, mas só o pode porque o novo é feito de elementos antigos.
Só se pode perceber o poder da linguagem quando se dá conta dessa linguagem operante que aparece quando a linguagem convencional ordena-se para ensinar algo novo, o que eu não sabia pensar ou dizer.
Dou meu conhecimento da língua, contribuo com o que sei sobre o sentido dos sinais, dou minha experiência dos sentidos e acontecimentos que conheço e o interlocutor se instala em meu mundo. Depois, ele desvia os sinais de seu sentido comum e me arrasta para outro sentido que vou alcançar.
Mas o que acontece é que a linguagem é elevada a uma condição de verdade na qual antes de ser uma significação, ela tem significação.
É preciso ter em mente que o sentido das palavras é nos dar acesso a algo e não à elas e que, de fato, elas não contêm nada em si, apenas um significado que deve nos levar ao que realmente importa: um pensamento.
A linguagem é a mediação entre o abismo de cada dimensão perceptiva nas quais os Homens vivem.
O grande sentido da comunicação não é passar mensagens, não é nos comunicar coisas que já sabemos. Mas seu verdadeiro sentido é fazer com que a constelação do sinais existentes nos guie para uma significação que não estava em nenhum lugar antes dela.
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