Liberalismo X Libertarismo
Durante
praticamente toda a história da humanidade, a liberdade tem sido motivo de
discussões e reflexões. Neste texto, conheceremos um pouco mais deste conceito
para os filósofos liberais e libertários, que a vêem de modo oposto - como
poderemos observar.
Será
a liberdade um produto natural ou uma construção humana?
Os
filósofos denominados liberais são aqueles que tratam a liberdade como um
fenômeno natural, ou seja, o homem nasce livre e perde uma parcela desta
liberdade ao aderir ao pacto da sociedade, obtendo em troca segurança.
John Locke afirmava que, no estado de
natureza, o homem é livre, tendo somente a lei da natureza como regra, sem
sujeitar-se a leis ou imposições. A renúncia a essa liberdade é feita em nome
de um direito coletivo.
Isso
acontece porque, embora em seu estado natural o homem seja livre e dono de suas
posses e de si próprio, tudo isto está constantemente ameaçado, porque todos os
outros homens são tão donos de si quanto este e não são válidos os conceitos de
igualdade ou justiça.
Sendo
assim, embora tenha liberdade, o homem no estado natural tem pouca
possibilidade de usufruir da mesma, que está constantemente ameaçada.
Jean
Jaques Rousseau vai mais a fundo na discussão sobre liberdade, partindo da
noção de que o homem nasce livre e, portanto, deve fazer o máximo para
preservar essa faculdade natural.
Para Rousseau, a instituição da sociedade
compromete a liberdade natural. Então, a sociedade deveria preservar a
liberdade do homem, sendo fundada sobre este princípio, protegendo o homem na
coletividade sem tirar-lhe totalmente a liberdade. Já não se trata mais de
abandonar a liberdade da natureza em nome da civilização, mas construir em
sociedade uma adaptação daquela liberdade criada pela natureza.
Assim,
para os filósofos liberais, como Locke e Rousseau, a liberdade é sempre natural
– o ser humano nasce livre e tem a liberdade cerceada pela sociedade.
Mas
eis que surge o questionamento: será que o homem nasce realmente livre?
Para
o anarquista francês Proudhon, a liberdade é resultante de uma oposição de
forças: uma força de afirmação, a necessidade, e uma força de negação, a
espontaneidade. Quanto mais simples é um ser, mais ele é regido pela
necessidade - faz aquilo que precisa para sobreviver - e quanto mais complexo, mais é influenciado pela espontaneidade - mais ele pode escolher o que fazer.
Esta espontaneidade atinge o grau máximo no ser humano, sob o nome de
liberdade. O homem não é, no entanto, pura espontaneidade, mas uma junção e
oposição das forças de afirmação e negação.
Proudhon
afirma existirem 2 tipos de liberdade: a primeira é a liberdade simples,
experimentada pelos bárbaros e aqueles que não vivem em sociedade, não tendo
consciência de seu estado. A segunda é a
liberdade composta, o que ele considera a verdadeira liberdade, aquela vivida
em sociedade. Essa liberdade pressupõe inúmeras liberdades individuais, que
formam uma liberdade maior e mais completa para toda a sociedade. Nessa concepção,
a liberdade de um indivíduo não acaba quando começa a do outro, mas ambas começam
juntas.
Mikhail
Bakunin aprofunda ainda mais a ideia de Proudhon, criticando severamente os filósofos
liberais no conceito de liberdade como algo natural, inerente ao ser humano. Em
oposição a isso, Bakunin vê a liberdade como uma construção eminentemente social,
só possível em sociedade.
Desse modo, não é na natureza que o homem é livre, pois só em sociedade é que a liberdade pode ser fundada. O homem vai se libertando das fatalidades naturais, passando a construir seu próprio mundo e conquistar a liberdade, ou seja, enquanto o homem vai produzindo cultura, produz a si mesmo, e também a liberdade.
Desse modo, não é na natureza que o homem é livre, pois só em sociedade é que a liberdade pode ser fundada. O homem vai se libertando das fatalidades naturais, passando a construir seu próprio mundo e conquistar a liberdade, ou seja, enquanto o homem vai produzindo cultura, produz a si mesmo, e também a liberdade.
Assim,
o homem e a liberdade nascem juntos, um cria o outro: quanto mais o homem se
humaniza, mais livre ele fica, e quanto mais livre, mais humano. Mas o máximo
de liberdade se concretiza quando todos são livres, pois as liberdades
completam-se e auxiliam-se.
Por
isso, para Bakunin, numa sociedade capitalista, ninguém pode ser livre, porque
a estrutura da sociedade é baseada na dominação de uma parte da sociedade sobre
a outra. Isso faz com que os filósofos libertários visem uma revolução social,
onde uma nova sociedade deveria ser formada, com todos podendo ser livres e
auto-gerirem o país, estado, comunidade etc.
Mas a questão central é: seria
a liberdade um “dom”, que nasce com o ser humano, ou algo que nasce com a
consciência humana?
Partindo do pressuposto de
que, sem a interação com outros homens e a construção da cultura humana, uma
criança não pode sequer ser considerada humana, como poderia este indivíduo ser
considerado livre ao nascer?
A diferença essencial entre
a visão de liberais e libertários é na concepção de que a liberdade, para uns,
nasce com o ser humano, e para outros, é construída com a humanidade. Mas ambas
valorizam a manutenção da liberdade, que é um direito do ser humano, seja
porque é-lhe inerente ou porque é necessária para desenvolver plenamente as
capacidades humanas.
Para Descartes, só pode agir
com mais liberdade aquele que consegue avaliar as alternativas anteriores à
escolha. Ou seja, tem mais liberdade aquele que possui a maior quantidade de
informações para embasar suas escolhas, que são refletidas e não impulsivas.
Desse modo, seja a liberdade nos dada ou construída por nós, ela apenas poderá ser realmente usufruída quando pudermos vislumbrar todas as possibilidades para decidir, reflexivamente, nossos próprios caminhos.
muito bom, foi esclarecedor, pois os Estudiosos divergem no tema liberdade.
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