terça-feira, 3 de março de 2009

O que é ter 20 anos?


A pouco nesta noite estava conversando com o sociólogo Luciano Alvarenga (www.lucianoalvarenga.blogspot.com), sobre o filme “Foi Apenas Um Sonho”, e acabou surgindo o tema do texto o qual estou escrevendo agora.

Nossa conversa foi breve, porém embora eu tenha perguntado para ele “o que é ter 20 anos?” e ele não tenha respondido, ele havia dito que: “nada é importante (quando se tem 20 anos), temos todo o tempo do mundo, todas as escolhas são possíveis e nada tem que ser pago por elas”

No intermédio da conversa Luciano também disse que uma pessoa com 20 anos basicamente esta “verde” e tem coisas que só o tempo dá. Segundo o sociólogo, a idade de 30 anos, ou talvez um pouco mais, é quando se fará um primeiro balanço das escolhas que fazemos e o preço que estamos pagando por elas, disse também que é quando a existência começa a fazer sentido.

É bom lembrarmos que Luciano Alvarenga é sociólogo, mestre em economia, e principalmente, que dá aulas para alunos com idade de 20 anos a 10 anos.

Bom, daqui para frente vou colocar alguns pontos sobre a pergunta e o título do texto.

Antes de tudo, somos aquilo que fomos educados, somos os valores que nossa percepção – que é condição humana nos concebe -,somos a cultura em que tivemos condições de entender vivendo.

A nossa percepção diante do mundo se dá de acordo com o “nosso” mundo, sim, o mundo pelo qual nosso aparelho de percepção se desloca e cria um significado para uma coisa qualquer que seja. No entanto cria-se um significado até mesmo para o pensamento do nosso próprio pensamento.

Desta forma nos conduzimos presos a símbolos para tudo o que temos fé que enxergamos, pensamos, sentimos e vivemos. Isso não quer dizer que as pessoas não busquem refletir e encontrar, talvez, a essência das relações no mundo. Ao contrário, buscam, porém o único lugar o qual elas poderiam encontrar algo enquanto refletem é dentro das suas próprias condições de percepção.

Devo falar do tempo e do espaço, para buscar uma compreensão do título. Bom... o espaço é um modo para o homem considerar que reconhece sua posição no mundo, mapa, diante dos lugares que possuem um nome, e o tempo indica como o que estamos vivendo se situa em relação ao curso dos astros ou ao curso de uma jornada humana.

Mas o relógio e o mapa apenas dão um simulacro de resposta.

No entanto esses acontecimentos-referências e esses lugares-ditos, onde estão eles próprios?

Esses remetem-nos a outros, e a resposta que satisfaz apenas porque não lhe prestamos atenção, porque nos cremos “em casa”, ou seja, na fé que temos em nossa percepção que justifica-se dentro de si própria – Marx procurando refletir sobre a socialismo e o capitalismo dentro do seu livro “O capital”.

“Que idade tenho verdadeiramente?”

Esta pergunta poderia ser respondida de acordo com os valores estruturais de modelos que a sociedade criou, porém talvez para quem estivesse preocupado em se satisfazer com uma lacuna, mas não para quem realmente está disposto a compreender algo além.

Sou verdadeiramente o único ser a ser eu?

Quando me refiro que somos a nossa educação, valores e crenças, estou dizendo que tudo isso foi instalado em nós mesmos, em circunstâncias iniciais, o qual não poderíamos ter lutado contra. A nossa família nos moldando, a escola, os livros, a sociedade e principalmente nosso próprio imaginário se relacionando com o que o mundo e as pessoas o proporcionaram. E isso é o que cada um é, - inclusive alguns psicólogos e poetas, passam a vida inteira buscando chegar à compreensão do próprio ser, e quando encontram, acham que são tudo aquilo, ou seja, a instalação.

Dentro de cada indivíduo instalado pela sua percepção se passa uma dimensão totalmente avessa à do outro, significados incrivelmente dissimulados em relação aos diversos. O que se passa para cada um não seria inteiramente nem o real se não soubéssemos a que hora se passa. O simultâneo.

O tempo é relativo e incomparável entre um ser humano e outro.
Mas o espaço/tempo se apropria da resposta, ao invés da hora estar apenas destinada de antemão ao acontecimento.

A resposta de Luciano sobre o “que é ter 20 anos?”, é apenas pra si, para o mundo interno e titular dele, ou seja, apenas para a instalação que ele possui, e imagina ser aquilo que ele é - e o faz pensar -, ou àquilo o qual o ser dele imagina sobre aquilo que os outros são ao observar.

Para quem é que esteja lendo este texto meu, meu ser é um jovem músico e estudioso de classe média, com 20 anos de idade e com sangue nos olhos com tudo o que passou dentro da própria percepção.
E eu sou o que não é dominado pelo que a percepção própria é.

18 comentários:

  1. Éder, não terminamos nosso conversa da maneira que acho a mais apropriada, aliás, vocÊ é a única pessoa com que vinha permitindo conversas pelo msn, uma vez que não considero este meio muito bom para conversas como as que tínhamos - msn: recados, lembretes e avisos. Suas perguntas, quase todas de caráter existencial, não conseguirim ganhar vida no msn. Concordo em linhas gerais com o que escreveu em seu texto. Mas entre o real o virtual e o simulacro, há pessoas, suas histórias, sua vida, seus desejos, angústias e vontade de serem felizes. Para mim ter vinte anos era ir embora da minha cidade, faz 15 anos que fiz isso. Não sei mais o que é ter 20 anos... apenas vejo entre os garotos que tem 20 e com os quais me reúno semanalmente, que algo está errado na vida deles e, eles sabem disso (meu último podcat trata disso). Entretanto, eles mesmos não tem muita margem de manobra para responderem aos profundos e existenciais dilemas que estão vivendo; isso por que estes dilemas são a parte de uma dilema maior e que afeta os adultos, o que fazer com essa vida que estamos vivendo e nenhum sentido maior possui. Para mim vinte anos foi sair da minha cidade, talvez, talvez, hoje seja encontrar uma fresta nesta rocha de vida que as pessoas estão vivendo e que em breve garotos com vinte anos também viverão. Abraço, Lucinao Alvarenga

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  2. ... já na minha época, ter 20 anos era querer saber muita coisa que não entendia;
    hoje consigo entender muita coisa que não gostaria de saber...

    tendeu? rs
    bjo

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  3. Um texto que mescla um estilo literário de narrativa repleta de poesia intr´nseca com um existencialismo um tanto quanto contraditório devido a ousadia em perpassar a ciência...

    Não concordo com várias passagens.... por isso gostei muito de ter lido!


    Parabéns!

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  4. Quando leio seus textos, gosto.
    Você possui um ponto de vista diferenciado e legal de tentar entender. (rs)
    Com relação a ter 20 anos, concordo com o comentário da Gianda - essa é uma idade (um tempo) de querer saber muita coisa.
    Ao falar que 'somos verdes', sim, até somos. Porém, pelo menos eu busco o conhecimento para sair desse termo.
    É díficil demais falar sobre o "eu" e o que o envolve.
    Creio que vale mais alguns post sobre o assunto.

    Abraços,
    Grazy Campos

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  5. Ter 20 anos é, como todas as outras faixas etárias vindoura, um período transitório. Você olha para a adolescência com um ar de “ah se eu tivesse essa idade com a cabeça de hoje”, o que de certa forma denota o descaso com a vida, como retratado pelo Luciano, e ao mesmo tempo você olha pra você mesmo com (pelo menos na sua consciência) mais maturidade.
    Você não é mais adolescente, mas também não é uma pessoa mais velha. É uma fase onde coisas normais podem ser abomináveis ou totalmente aceitáveis, como casar por exemplo. O mundo lhe trata como inconsequente, porque você pode ser inconsequente ou talvez porque você o seja mesmo. Mas ao mesmo tempo as pessoas lhe enxergam como responsável, exatamente pelos mesmos motivos.
    Ter 20 anos, ou 20 e poucos anos é um período. Não tem como pulá-lo ou se prender nele para sempre. Porém nunca gostei de estereótipo de comportamentos ligados a faixa etária. Seja com 15, 25, 50 ou 100 anos, a vida deve ser vivida da forma que lhe agradar. Se quer romper barreiras, que rompa. Mas se sua felicidade se resume a passar sua vida assistindo ao BBB, eu lamento, mas que seja feliz assim então, da sua forma. Todos temos esse direito.
    A felicidade é uma coisa tão simples, que talvez, exatamente por isso, todos, independentemente da idade, tendem a não aceitá-la de maneira fácil e agradável.

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  6. Eder. Concordo em número, gênero e grau om o Luciano Alvarenga. E digo mais! A vida começa aos 40. Até aí foram poucos acertos, e erros sem fim. Aos 40 você já absorveu tudo que achava que era certo e importante pra você. Se pudesse voltar meus vinte anos, faria tudo diferente. A maturidade conflita com o livre pensamento e a vontade de rasgar o mundo dá lugar a um pensamento mais lógico, humano e sem pressa. Admiro muito o que faz nos seus 20 anos, mas tenho certeza que nos seus 40 anos irá se lembrar que a vida começa aos 40. Com certeza!
    Abraços. Fernando Marques, 48 anos de busca...

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  7. Tive 18, passei pelos 20 e agora caminho para os 24 anos. O dia de ontem foi diferente do que está acontecendo neste exato momento. O que eu fiz ontem já não queria ter feito.
    Imagine, então, o que é ter agido há quatro anos em paralelo com o presente! Ontem escrevi uma reportagem. Eu tinha uma visão do tema. Hoje, quando a li novamente, me odiei. Perguntei-me: "Por que não dei outro gancho?". Frustrei-me.
    Todo dia, toda hora, vejo que fui melhor ou pior do que o passado. Isso só foi possível porque primeiro postulei, em seguida VIVI e, logo após, teci meu pensamento.
    Ter 20 anos é simplesmente viver tendo 20 anos. Não queira, como eu queria, viver aos 20 como se tivesse 30, 40, 50.
    No livro de Eclesiastes, na odiada Bíblia (isso para o Éder), diz: "Há tempo para todas as coisas, tempo de plantar e de colher, tempo de rir e de chorar, tempo de recolher-se e de alegrar-se".
    Viva os 20 anos como a idade determina. E ponto.

    Diego Polachini

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  8. Luciano, realmente concordo com voçê quando diz que existem pessoas por trás de todo este simulacro, e é isto que me intriga. Como serem felizes vivendo o falso? talvez seja possivel sim uma felicidade com mudanças drásticas na sociedade, parecendo estar tudo bem no visível e no seu mundo interior(o que é muito difícil), no entanto talvez o vazio continue, pois o falso não estará anulado.
    As conversar que tenho com voçê sempre muito proveitados para mim.

    Gianda, concordo que quando após a adolescência temos uma tendência a querer saber de muita coisa, porém cada um quer saber uma coisa diferente, e não são os 20 anos, e sim apenas a pós adolescencia, quando ja forá do colegial "massante" dispertamos para uma vida mais direcionada. Diante tudo isto há aqueles que nunca perdem está vontade de querer saber muita coisa que não entendia. E sem dúvida estes são aqueles que não se arrependeram de entender o que entendem, pois talvez estes sim entenderam e entendem.

    Nivaldo muito obrigado pelo elogio, é uma honra para mim, e que bom que não concorde, se concordassem não teria motivos para escrever.

    Grazy, adimiro está abertura sua ao novo, com certeza vou prolongar este tema, já que está sugerindo.

    Micael exatamente, a vida deve ser vivida com liberdade para não seguir a própria idade, ou seja, este conceito, mas sim o que é realmente, e cada um tem uma legenda diferenciada de tudo o que vive.
    "Se quer romper barreiras, que rompa" - Excelente.

    Fernando, concordo com voçê diante dos erros que cometemos, porém a questão é: "Quando começa os meus 40 anos e quando começa os seus?"
    talvez este seja o tema do meu próximo texto, e espero as opiniões de todos que aqui passaram. Não para preencher o blog, mas para todos nós termos oportunidade de abrir a mente e evoluir nosso ser.

    Diego, sem dúvida este é um sintoma
    é natural de todo ser humano, mudar a percepção a cada simultâneo novo. Porém não é em idade nenhuma ao certo que existe este auge, mas sim em toda a jornada de vida.
    Em relação a bíblia, considero as mensagens de percepção humana de livros religiosos excelente, e talvez, tão boas quanto as de filosofia.

    Obrigado a Todos.

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  9. Acho muito interessante o tema e as discussões, porém, acho que a vida é para se viver o agora, e não o “ontem e nem o amanhã”, tudo acontece no agora, você tem que acordar pensando em tudo que você pode fazer para melhorar no hoje (agora), e não deixar para amanhã. Não fico pensando muito em o meu futuro, tento planejar algumas coisas, buscar o máximo de informações, e quero ter um reconhecimento no meu trabalho. Esse assunto é bastante complexo, mas procuro entender, e acho interessante o ponto de vista do Eder, às vezes não concordo com algumas coisas. Mas procuro entender esse tema e quero me aproximar dessas percepções. Sei que vai ser difícil.
    Mas é um assunto para muitos estudos e reflexões...

    Abraços

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  10. Pra mim ter 20 anos é ter infinitas dúvidas q parecem ñ ter resposta, é ter dúvidas sobre o que realmente se quer, sobre o q realmente se é. Não sei como vai ser nos 30 nem nos 40, mas acredito q grande parte dessas perguntas ñ terão respostas mesmo e q muitas dúvidas continuarão conosco por toda a vida. A incerteza e a capacidade de mudança repentina faz parte do ser humano. Se nos aprisionarmos a essas dúvidas e viver buscando respostas pra elas, talvez ñ vamos aproveitar a vida como deveríamos e podíamos.
    Vc disse: "eu sou o que não é dominado pelo que a percepção própria é." Agora eu te pergunto... oq em vc ñ é dominado pela percepção própria e como vc consegui diferenciar oq é dominado do q ñ é?
    Ótimo texto!!! Parabéns...

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  11. Ao nos darmos conta de que somos o que somos educados a ser, mas que isso que nos foi instalado pelos outros e por nós mesmos através de nosso imaginário não é o que somos, isso, essencialmente isso, faz com que nossa idade seja relativa e incomparável em relação aos outros.
    Aos 20 anos, somos os mesmos que aos 10, 30 ou 60, com a diferença de nossa percepção e conhecimentos.
    Mas, deste modo, somos sempre os seres que foram criados, educados, condicionados, socializados, colocados dentro da sanidade do mundo. Ou seja, somos tudo menos livres para sermos.
    Nosso ser pode mudar e provavelmente o fará, mas quando chegamos ao que somos verdadeiramente, permanerecemos o mesmo, pois não há como ser outro além daquele que enxerga o que o mundo é sem a dominação das percepções e consequentes valores.

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  12. Rosiane, a minha verdadeira essência não é dominada diante daquilo que em mim foi instalado. A essência não é o que achamos que é o nosso jeito de ser - personalidade -, ao contrário, isto é o que em nós foi criado, ou melhor, nós mesmos criamos, com talvez um pouco de influência de fóra, porém de acordo com o nosso olhar, - modo totalmente subjetivo de enxergar.
    Na essência não existem valores, crenças e nem educação, apenas observa-se o mundo sem nenhum pressentimento ou sensação, a fim de enxergar o mundo tal como é.
    A capacidade de diferenciar o que é dominado do que não é, acontece a partir do caminhar ingênuo pelo mundo, podendo criar condições para a quebra dos símbolos próprios. Negando a nossa própria fé perceptiva no mundo.

    Obs: apenas com está mimha explicação tão superficial, e ao mesmo tempo com com um raciocínio totalmente complexo, é bem provavel que a compreensão de leitores não empenhados no assunto, não passe apenas de meras palavras e conceito que voçê possa saber sobre, ou seja, repetir, mas não entender realmente.

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  13. Consigo entender oq vc quer dizer, mas admito ñ conseguir ver oq ñ é superficial, oq é o real...
    Saindo um pouco fora do tema... acho q muitas vezes vc é tão certo daquilo q vc acredita q ñ abre espaço pra procurar entender a opinião dos outros... considere isso como uma crítica construtiva...

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  14. É poetico e bonitinho o que o sicólogo disse:“nada é importante (quando se tem 20 anos), temos todo o tempo do mundo, todas as escolhas são possíveis e nada tem que ser pago por elas”
    Mas a realidade não é assim, embora muitos jovens vivem desta maneira, a realidade, pelo menos a "minha" realidade é diferente. Com 20 anos tudo muda, a partir destes 20 anos que eu vou formar a pessoa que eu serei aos 30. Então se eu viver como se "nada fosse importante", isso dará um retorno não muito bom, para a adulta com o dobro de responsabilidade que eu vou me tornar.

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  15. 20 não passa de um número, a questão é, só creio em números, e a idade é relativa pra todos, acredito eu que o homem não evolui sua mente sincronizando com a da mulher, o homem nunca amadurece. Acredito também que vivo meus 20 anos desde os 10 e que terei 10 daqui 20 anos, porque meu calendário faço eu, meu ano não tem 365 dias.
    Atenciosamente:
    Amir Jamal Nunes Yassine
    Bacharelando em ciências da computação
    USP- São Carlos

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  16. Ter 20 anos, é exatamente ter vinte anos... vc já cresceu um pouco e passou da faze que era conveniente as vezes ser criança as vezes ser adolescente, e agora encara novos desafios e medos... há aqueles que ainda não amadureceram o suficiente pra enfrentar outra realidade... há aqueles meio no mundo da lua que preferem o que não é real,alguns destes de maneira bastante irreal, mas os meus preferidos são aqueles que buscam encontrar sua verdade, saber quem são e de buscar aquilo que acreditam, de acordo com o programa instalado nele, msmo aqueles que acham não ter nenhum software. isso é massa!

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  17. ter 20 anos é ser bombardeado de todos os lados por ideologias, caminhos a seguir, o que fazer do seu futuro, o que você quer ser quando crescer? mas porra eu já não cresci??
    ter 20 anos é estar em um episódio de Lost, você sabe o que esta acontecendo, mas continua perdido

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  18. Eder

    Então....nunca poderemos ter um conhecimento das coisas a priori....se tudo é apenas criação da nossa percepção?
    E essa consciência de que tudo é ilusão...não pode ser também uma ilusão?

    Abraço, e parabéns pelo texto!

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