sábado, 28 de fevereiro de 2009

Panóptico
Reféns da própria mente


Em 1785, o filósofo Jeremy Bentham criou o centro penitenciário ideal: a prisão é formada por uma torre de vigilância (ou um "alojamento de inspeção") no centro de um edifício anular que está dividido em celas por toda a volta do perímetro. Quem estivesse sobre a torre poderia observar todos os presos da cadeia, tendo-os sob seu controle.

Esse conceito de um mecanismo onde alguém “veria sem ser visto”, mantendo os indivíduos observados num ambiente de incerteza sobre a presença concreta do vigia, é chamado de Panóptico.

O panoptismo corresponde à observação total, a tomada integral da vida de um indivíduo por um poder disciplinador. O indivíduo é vigiado durante todo o tempo, sem que veja o seu observador, nem saiba em que momento está sendo vigiado.

Nas palavras de Foucault, a finalidade do Panóptico é : "induzir no indivíduo um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento autoritário do poder, fazendo com que a vigilância seja permanente nos seus efeitos"

Isso quer dizer que a vigilância tem efeitos permanentes, mesmo que sua ação não seja. O mais importante não era vigiar o indivíduo o tempo inteiro, mas era que ele soubesse estar sendo vigiado. Assim, a finalidade do Panóptico não era fazer com que as pessoas fossem punidas ao cometerem erros, mas que elas nem tivessem a oportunidade para cometê-los, pois sentiriam-se sempre presas num campo de visibilidade.

Foucault dizia que seria mais rentável e mais eficaz vigiar do que punir. Bentham alegava que qualquer punição deve ser encarada antes de tudo como espetáculo, no sentido de que não importa seu efeito sobre quem é castigado, mas as impressões que recebem todos aqueles que vêem o castigo ou que dele são informados.

Por isso, em sua prisão panóptica, ocasionalmente deveriam ser escutados gritos horríveis, mas não dos prisioneiros, e sim de pessoas contratadas exclusivamente para esse propósito. Essa punição fictícia produziria um bem para todos: a ordem, a disciplina, ao mesmo tempo que não produzia nenhum mal, pois o "mal" produzido seria forjado.

Na verdade, toda a estrutura do Panóptico é baseada em pura ficção. É precisamente a onipresença do vigiante, controlando os movimentos dos indivíduos, o que sustenta a perfeita disciplina no Panóptico.

O Panóptico enfim, é um mecanismo que se articula através dos conceitos de poder e medo, e através dele percebemos como o homem pode ser refém de sua mente e de seus temores. O vigia perfeito, onipresente, é aquele que nunca aparece mas pode aparecer a qualquer instante... é um olhar, uma sombra, uma voz não indentificáveis...uma espécie de fantasma que está sempre assombrando.

Realmente esta espécie de fantasma pode existir, porém o princípio do panóptico é que este não precisa existir, já que apenas o seu símbolo é suficiente, na cabeça de cada indivíduo, para dominá-lo em tempo integral.

O momento o qual o indivíduo não deseja ser observado é precisamente quando o panóptico exerce o seu poder supremo sobre cada ser, por exemplo:

Quando em algum momento de sua vida pensou em pegar algo que não era seu, ou pensou em fazer qualquer coisa que era considerado errado para si diante dos seus valores.

Isso tem uma explicação.

A educação, os valores, as crenças, que são instalados em nós quando não possuimos uma emancipação o suficiente (a maioria das pessoas nunca chegam a ter) a ponto de nos defendermos desta lavagem cerebral, segundo a sociedade: cria o ser humano perfeito.

Este homem perfeito é aquele que é bom, que é sociavel, que possui um sorriso o tempo inteiro no rosto - mesmo em tempos de crise -, aquele que tem fé, bom... é só pensar no que você espera de si próprio que encontrará definições melhores do que as minhas.

Isto tudo é o que já instalam no seu programa mental, sendo a justificativa de tudo... mas o que realmente é escondido por trás deste filtro é que tornam individuos mais fáceis de serem controlados e usados, ou seja:

Gados que caminham na fila de abate alegremente e sozinhos, pessoas passivas, sem criticidade, com as percepções ainda mais ingênuas, com valores falsos, criando o seu próprio cárcere, sendo assombrados por inimigos fictícios e vivendo sem liberdade dentro de si próprias.

A sociedade tornou-se uma sociedade de controle, onde a vigilância se dá pela presença do observador fantasma.

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