segunda-feira, 2 de julho de 2012

ESCOLA DA PONTE

Uma escola sem paredes onde o portão nunca se fecha, sem salas de aula, sem divisão de séries ou turmas, sem apostilas, sem provas ou aulas e com os alunos escolhendo o que, quando e como estudar. Sim, essa escola existe e é referência em todo o mundo quando o assunto é educação: a Escola da Ponte.

É interessante pensar sobre o conceito de ponte: a partir de algo que já se possui, constrói-se algo totalmente novo, associando conhecimentos novos aos anteriores. Deste modo, estimula-se a construção de novos conhecimentos (que não ficam ilhados, sem sentido) e solidificam-se os anteriores. Apesar de não acharmos referências sobre isso, pensamos que é esse o motivo do nome da escola.

A Escola da Ponte surge de questionamentos acerca de uma escola que já não funcionava – a escola tradicional, da qual a maioria de nós fez e ainda faz parte. Era preciso repensar a escola e os professores, que já estavam acomodados – precisavam começar a ter mais interrogações do que certezas.

 Lá, percebeu-se que se há alunos com dificuldades de aprendizagem, também os professores têm dificuldades de ensino. A escola, portanto, deve centrar-se nos alunos e no desenvolvimento de sua autonomia.

Com uma proposta tão inovadora, há professores que vão embora e alunos que estranham tanta liberdade, mas o sistema tem se mostrado viável por pelo menos dois motivos: os educadores estão abertos a mudanças e as famílias dos alunos apóiam e defendem o modelo da Escola.
           
A Escola da Ponte foi fundada em 1970, situada em Vila das Aves, distrito do Porto, em Portugal, visando a realização de um ensino diferenciado. Porém, o trabalho escolar era exclusivamente centrado no professor e as crianças eram passivas, sendo que, em 1976, surgem questionamentos internos que impulsionam a escola para um projeto completamente diferente.   
           
As crianças que chegavam à escola transferiam para a vida escolar os problemas sociais dos bairros pobres onde viviam, exigindo da escola uma atitude de grande atenção e investimento afetivo e emocional.

Assim, surgiram novas e maiores dificuldades que suscitavam questionamentos e a reflexão de que não é possível construir uma sociedade de indivíduos personalizados, participantes e democráticos se a escolaridade for concebida como um mero adestramento cognitivo.         

Foi então que, em 1976, compreendeu-se que era preciso um projeto e objetivos que orientassem o trabalho na escola, que são: concretizar uma efetiva diversificação das aprendizagens, garantindo as mesmas oportunidades educacionais e de realização pessoal para todos, promover a autonomia e a solidariedade, operar transformações nas estruturas de comunicação e intensificar a colaboração entre instituições e agentes educativos locais.

A partir disso, instalam-se as reformas físicas e conceituais que enfim possibilitaram a execução daquilo que desejava o idealizador da Instituição, o educador José Pacheco.

Resumidamente, a Escola visa que todos os componentes da mesma tenham os mesmos objetivos: formar cidadãos cada vez mais cultos, autônomos, responsáveis, solidários e comprometidos com a sociedade, e promover a autonomia, solidariedade, responsabilidade e democracia.

Na Ponte, há as mais variadas modalidades de interação professor-aluno e de aprendizagem: estudo individual, ensino mútuo (entre alunos), ensino simultâneo (aula direta), ensino individual (professor atendendo um aluno), ensino coletivo (vários professores atuando ao mesmo tempo na aula direta), sendo que o objetivo dos objetivos é a felicidade e o pleno desenvolvimento dos alunos.

O
brigar cada um a ser igual a todos é negar a possibilidade de existir como pessoa livre e consciente. E na Escola da Ponte, todos estudam o que e como querem, desenvolvendo projetos acerca de seus interesses e descobertas, respeitando-se a individualidade dos alunos e suas necessidades educacionais. 

Além disso, todos trabalham com todos e, assim, nenhum aluno é aluno de um professor, mas sim de todos os professores e nenhum professor é professor de alguns alunos, é professor de todos os alunos.    

Os alunos formam grupos heterogêneos, não estando classificados, agrupados ou distribuídos por turmas nem por anos de escolaridade que, na prática, não existem. Não há salas de aula, mas sim espaços de trabalho, onde não existem lugares fixos.

O grupo heterogêneo é a unidade básica adotada, muito embora a organização do trabalho alterne entre o trabalho em grupo, o de pares e o individual. Um grupo é, geralmente, constituído por três alunos e organizado de modo a promover a participação e ajuda mútua entre as diferentes idades e níveis de desenvolvimento. Apesar do vinculo afetivo ser a base da constituição do grupo, prevalece uma condição para sua constituição: cada grupo deve incluir um aluno que tenha mais necessidades de cuidados. 

Nos espaços de trabalho são disponibilizados diversos recursos, como livros, dicionários, gramáticas, internet, vídeos, ou seja, várias fontes de conhecimento.

Os pais estão também fortemente implicados no processo de aprendizagem dos alunos e na direção da Escola. Os contatos são feitos sempre que necessário através do professor tutor, que acompanha, orienta e avalia diariamente as atividades realizadas pelos seus tutorados.  

A equipe docente é constituída por elementos com formação diversificada e reúne-se semanalmente e sempre que necessário para debater problemas da escola, planificar e avaliar o trabalho
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Diariamente, os alunos escolhem um tema de seu interesse e, a partir desse, aprendem os mais variados conteúdos, se aprofundando nos conhecimentos a partir daquilo que lhes interessa. Há também os estudos individuais, depois compartilhados com os colegas. Os estudantes podem recorrer a qualquer professor para solicitar suas respostas e se eles não conseguem responder, os encaminham a um especialista. A cada ano, as crianças e os jovens criam as regras de convivência que serão seguidas inclusive por educadores e familiares.

A Escola divide o trabalho pedagógico em 3 núcleos: Iniciação, Consolidação e Aprofundamento.

O aluno do Núcleo da Iniciação, primeira dos três ciclos da escola, é trabalhado a fim de aprender a ser pontual, assíduo e zeloso por seus materiais e colegas, cumprir suas tarefas, pedindo auxílio ao professor só quando realmente precisar, desenvolver sua criatividade e participação, com intervenções pertinentes, elaborar e atualizar seu plano de estudo, reconhecer suas falhas e acertos nas auto-avaliações, pesquisar, resolver conflitos e se comunicar – oralmente e por escrito – de forma clara e coerente.  

As crianças da Iniciação dispõem de um espaço próprio, onde aprendem a ler, escrever e ser gente. Porém, os mais novos não permanecem continuamente neste espaço, mas partilham outros. As crianças da Iniciação leem e produzem escritas desde o primeiro dia de escola.       

O que distingue a Iniciação dos restantes níveis é, sobretudo, o modo como se faz a planificação e uma maior intervenção dos professores. Quando uma criança passa a um grau de autonomia que lhe permita a socialização em pequeno grupo, participa de pequenos jogos assistidos por colegas voluntários, sem, contudo, sair do espaço da Iniciação.

Desenvolvendo bem as atividades de grupo, pesquisa e auto-avaliação, a criança passa para o Núcleo da Consolidação, procurando cumprir o currículo nacional destinado ao primeiro ciclo do ensino básico de forma autônoma, consolidando suas competências desenvolvidas na primeira fase.
No terceiro e último núcleo, o do Aprofundamento, os alunos trabalham os conteúdos do segundo ciclo do ensino básico. Eles possuem total autonomia de seu tempo na escola, mas devem participar das aulas de educação física e de laboratório e podem fazer parte de projetos de extensão e de pré-profissionalização.       

Na Escola da Ponte, as crianças são tratadas como crianças e não como adultos, porém dominam por completo os dispositivos pedagógicos da escola e explicitam os porquês de tudo o que fazem e vivem.         

Desde que um aluno chega à escola até que dela saia, realiza tarefas do dia-a-dia que dependem do tipo de projeto que estão desenvolvendo e do nível em que se encontram. Quando chegam à escola, brincam. Quando se percebe que os professores vão chegando, dirigem-se para uma das salas, após registrar sua presença no painel. Pegam o material, procuram o seu grupo, sentam-se na mesa que escolhem, e elaboram o plano do dia.

A organização de meios e a gestão do bem-estar são de responsabilidade coletiva, de acordo com categorias de tarefas a que se dá o nome de Responsabilidades. Há por exemplo, o Grupo dos Murais, a quem compete manter os murais atualizados e organizados, o Grupo do Recreio Bom, a quem cabe zelar pelo bem estar de todos no recreio, o dos responsáveis pelo material comum, pelo terrário etc. 

Quinzenalmente, todos os grupos de todas as responsabilidades apresentam à Assembléia o relatório de tudo que fizeram da sua responsabilidade, durante esse tempo.            

A escola democrática é diferente porque as coisas não são simplesmente impostas aos alunos, como se estes fossem um problema e não parte do processo. A relação com o conhecimento se baseia em que todos querem aprender sempre, e que obrigar alguém a aprender algo que ele não queira é desestimulá-lo a aprender.     

Escutar o aluno, entender suas necessidades e o que deseja aprender, permitir que ele aprenda junto com os educadores e a comunidade escolar, e decida qual o caminho que deve ser seguido: este é o segredo da educação democrática.

As escolas democráticas pretendem ser espaços onde a ideia de democracia também se estenda aos muitos papéis que todos (educadores, alunos, pais e comunidade) desempenham nas escolas.

A Escola da Ponte eliminou os mecanismos de aprovação e reprovação, inserindo uma perfeita correspondência entre progressão e progresso, tendo em vista que o projeto da escola visa um currículo flexível que se adapte ao progresso do aluno ao longo do ciclo de estudos.        

Os professores não precisam preparar aulas na Escola da Ponte, porque não há aulas. Eles preparam, apenas e eventualmente, aulas muito especiais, as chamadas “aulas diretas”. Os professores preparam a si próprios, todos os dias, para responderem a tudo o que for necessário e para enfrentarem a imprevisibilidade. Os trabalhos que vão ser desenvolvidos ao longo do ano são impossíveis de prever, dependem dos programas, da vontade dos alunos, da negociação e, até certo ponto, do acaso e da necessidade.
           
A avaliação da aprendizagem é feita quando o aluno sente-se preparado para tal. A auto-avaliação acontece quando alguém sente necessidade de manifestar ou aplicar conhecimentos adquiridos, expor competências etc. Cada aluno comunica o que aprendeu e faz prova de aprendizagem só quando quer, quando sente que é capaz, o que, por vezes, consiste em comunicar aos outros, durante o debate, as descobertas realizadas. 

Com tudo isso, vimos que a Escola da Ponte tem seu modelo de educação baseado na autonomia do aluno e na democracia. 

Contrariando visões ultrapassadas e rígidas da educação, a Escola mostra com sucesso que o caminho para a educação é a abertura para a participação e envolvimento de todos com a escola, e a liberdade para aprender, proporcionando às crianças a oportunidade de serem sábias e felizes.
       
O projeto revolucionário da Escola da Ponte já existe há mais de 40 anos, mostrando que as utopias podem ser colocadas em prática.

Uma escola de qualidade para todos pode existir e satisfazer a necessidade de todos os alunos, levando-os à autonomia intelectual e social.            

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