sábado, 6 de julho de 2013

A MANIFESTAÇÃO


Neste momento, o Brasil vive um acontecimento diferente de qualquer outro em toda a sua história. Uma insatisfação reprimida e acumulada canaliza-se na forma de uma série de manifestações por todos os cantos do país através de todos os tipos de pessoas.

Neste texto, abordaremos a política com olhos não partidários e trataremos dos motivos pós-modernos da atitude coletiva que vem sendo tomada pela nossa sociedade. 

Primeiramente, uma manifestação é uma forma de ação de protesto realizada por um coletivo de pessoas. É uma forma de ativismo, que habitualmente consiste em uma concentração de pessoas, com ou sem passeata, em geral com cartazes e coros cantando os motivos e reivindicações do manifesto.

Em geral, as manifestações têm como objetivo demonstrar ao poder ou sistema instalado o descontentamento social

Historicamente, quanto maior o número de pessoas que participarem da manifestação, maior o êxito da mesma.

MOVIMENTO PÓS-MODERNO

Contudo, suponho que esta não seja qualquer manifestação, mas um movimento pós-moderno. O mundo já vem se desenvolvendo a algum tempo com o que é chamado de pós-modernismo. Este tem como princípio a desvalorização dos conceitos ideológicos. Nele, a sociedade passa pelo desapego geral de modelos dogmáticos que, supostamente, definiam toda a vida de uma pessoa.

As pessoas sabiam sua posição social e se contentavam com esta. Isso já não mais acontece. A experimentação desimpedida de vários outros modelos é uma das conseqüências de uma sociedade sem paradigmas, contudo perdida e desamparada – que nunca encontra a sensação de ter domínio sobre si e sua própria vida.

E, em toda transição, anteriormente à mudança, passamos por uma crise. Um estado de crise pode ser um ótimo modo de entendermos ou interpretarmos estas manifestações. Uma crise é a indicação de determinada situação que não é mais suportável, onde uma atitude de mudança é necessária. Este estado não aparece ao acaso, mas se desenvolve lentamente através de um processo, transparecendo quando se torna insuportável. 

Dentre as justificativas para o que vem gerando a pós-modernidade, a formação de uma sociedade global, desenvolvendo um caráter policultural a partir de hiperinformações, é considerada o motivo primordial, segundo estudiosos como Stuart Hall, Jean Baudrillard e Manuel Castells.

                                                                                         
CRISE DE REPRESENTAÇÃO

Também, observando a sociedade, podemos perceber que uma crise de representação já vem a algum tempo assombrando alguns segmentos da sociedade, como a família, religião etc. 

O sistema político é apenas mais um que está sendo afetado. 

Como é conhecido que o Estado é a representação e o espelho de seu povo, a política, que organiza e rege o mesmo, tende a modificar-se com seu povo.

Neste novo modelo, que tem como princípio a transitoriedade, “tudo vale”, ou quase tudo, e todos os discursos são válidos. Não há mais padrões estritos para representar a realidade, resultando numa crise de representação ética, estética, entre outras.

Uma característica interessante deste movimento é a ausência de objetivo específico. Enquanto algumas pessoas saem às ruas defendendo questões particulares, outras saem, simplesmente, por sentirem uma angústia em suas próprias vidas, mesmo que não saibam a razão – sendo as manifestações um ótimo motivo para se expressarem, canalizando tudo o que sentem. 

Contudo, poderíamos dizer que a essência de todo este movimento é a negação de tudo como está, ou como é.

O professor de filosofia política, Paulo Omeno, compreende que em toda a História dos movimentos de manifestações, as pessoas sempre uniam-se a algo e sabiam contra quem lutar – a ditadura pode ser um bom exemplo no Brasil – mas este movimento é diferente de qualquer um outro até então no nosso país.

O jargão “Vocês não me representam!” pode simbolizar, muito bem, a face deste movimento.

REALIZANDO MANIFESTAÇÕES

É bom notar que os brasileiros estão aprendendo a fazer manifestações. Outros países, especialmente a Espanha, já chegaram a este estágio social um pouco antes do Brasil. 

Em 2011, houve uma sequência de manifestações na Espanha, chamado de Movimento 15-M – nome este relacionado ao início das manifestações, 15 de maio. O acontecimento realizou-se através de uma série de protestos em dezenas de cidades da Espanha, espontaneamente organizados nas redes sociais.

Semelhante ao movimento brasileiro, trataram-se de protestos pacíficos que reivindicaram mudanças políticas e sociais, onde os manifestantes, com questões heterogêneas, em essência consideraram que os partidos políticos não mais os representavam e buscavam profundas mudanças no modelo democrático vigente (atual).

Pesquisas indicam que estes protestos aparecem num momento em que a juventude está academicamente mais preparada do que nunca. Com esta habilidade, percebem que os partidos políticos pensam somente em si mesmos.

E esta característica nos leva a uma questão antiga, contudo, ainda não resolvida.

FILOSOFIA POLÍTICA

Sócrates, na obra “A República” de Platão, século IV a.C., já pensa sobre esta questão, dizendo:

“Homens honestos não querem assumir o governo nem por dinheiro nem por honrarias. Na realidade, não querem ser considerados mercenários que exigem abertamente um salário, nem querem ser considerados ladrões ao tirá-lo de modo secreto de seu encargo. Como não são ambiciosos também não querem governar pelas honrarias.”

Esta obra se dá através de diálogos, e este trecho torna-se mais claro lendo a mesma de forma contextualizada. 

De qualquer forma, o que Sócrates pretende dizer é que os homens justos não aceitariam tal posição, enquanto os injustos governam por si próprios e não por seu povo ou eleitores. Logo, parece que a forma de governo conhecida como “República” possui, em princípio, um difícil problema com seus líderes de governo.  

Os governantes não realizam sua função de bom grado, por perceberem um ideal nobre no que fazem, ao contrário, um salário é exigido. E quem pretende exercer bem a própria arte não realiza, nem impõe, seu próprio interesse, na medida em que comanda em função de sua arte, mas no interesse de quem está subordinado a ele. Por esta razão, segundo me parece, é preciso recompensar, com dinheiro ou honras, a quem aceita comandar ou impor-lhe uma punição se não governa.

Contudo, o homem honesto considera honrarias e dinheiro desonrosos para fazer aquilo que lhe é caro. Assim, ao governo sobram os injustos.

O injusto é aquele que não sabe, o homem ignorante. Por isso não é justo. A sua incapacidade atrapalha e confunde a sua noção de justiça. Por fim, é tido como mau, por parecer não se importar com sua injustiça. 

CONSEQUÊNCIAS 

Ainda, quase nada posso concluir nesta análise, já que este movimento de manifestações ainda não se esgotou. Além disso, este é um fenômeno único e muito recente na história do homem.  Só o tempo poderá nos falar sobre as consequências deste novo mundo, com novas pessoas.

De qualquer modo, pode ser dito que o povo está aprendendo a se defender.

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