À primeira vista, autonomia parece um conceito fácil de se entender. Na definição do dicionário Aurélio, é “a faculdade de se governar por si mesmo”. Mas a realidade é que poucas pessoas conseguem adquirir essa capacidade, que só é alcançada em meio a um longo e cuidadoso processo.
Como nos ensinou o educador Paulo Freire, ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se constituindo com a experiência de várias, diversas, incontáveis decisões, que vão sendo tomadas dia a dia.
Como nos ensinou o educador Paulo Freire, ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se constituindo com a experiência de várias, diversas, incontáveis decisões, que vão sendo tomadas dia a dia.
Mas, durante os primeiros anos de vida, a criança está totalmente desprovida de qualquer tipo de poder, o que faz com que os pais – e/ou outros adultos que se relacionam com a criança - criem uma espécie de hábito de dominação sobre ela. Esta dominação aparenta ser necessária e natural, já que a criança espera tudo de nós, parecendo ser-nos dada como posse, e isso acaba por gerar uma postura autoritária.
Mas esse estado de dependência das crianças pequenas, que parece recomendar uma atitude possessiva, deve ser entendido como uma fase passageira e, ao prolongar a autoridade assumida, o adulto está criando uma dependência.
Segundo o filósofo René Descartes, a liberdade é a mesma para todos, mas o poder não é. E, como a criança nasce completamente desprovida de poder, a liberdade não lhe faz sentido, pois não é possível nenhuma autonomia, nenhum domínio sobre si mesma ou sobre as decisões que lhe dizem respeito.
A relação entre pais e filhos apenas em pequena parte é instintiva, pois é uma relação humana, e esta condição (humana) envolve interesses, esperanças, desejos e sentimentos, e entre estes o desejo de que o filho seja livre e forte e, ao mesmo tempo, que ele dependa sempre dos pais (mais frequentemente das mães). São estes sentimentos somados ao poder que está nas mãos dos adultos que os levam a assumir uma atitude extremamente autoritária em relação às crianças.
A relação entre pais e filhos apenas em pequena parte é instintiva, pois é uma relação humana, e esta condição (humana) envolve interesses, esperanças, desejos e sentimentos, e entre estes o desejo de que o filho seja livre e forte e, ao mesmo tempo, que ele dependa sempre dos pais (mais frequentemente das mães). São estes sentimentos somados ao poder que está nas mãos dos adultos que os levam a assumir uma atitude extremamente autoritária em relação às crianças.
O direito que é dado a si mesmo de comportar-se como o proprietário da verdade é intolerável, e isso frequentemente ocorre com os pais (ou mesmo outros adultos) ao falarem às (e não com) crianças. Quem escuta – a criança - não tem direito a resposta, não é considerado parte da situação - não existe ali. E é muito fácil convencer as crianças, porque é a autoridade, e não o raciocínio, que as persuade, o que nos lembra do limiar tênue entre autoridade e autoritarismo.
Quem tem autoridade faz-se ouvir por deter conhecimento e ser respeitado por sua postura. Já o autoritarismo é a imposição, se é ouvido pela força. Por isso, aquele que tem autoridade não precisa ser autoritário e quem precisa ser autoritário não tem autoridade.
A autoridade está diretamente ligada a respeito, merecimento, e permite que os outros também tenham voz. Ao desconsiderar-se o outro, nasce o ser autoritário. Mas esse equilíbrio é difícil para quem detém uma posição de poder, e é justamente em saber manter esse equilíbrio que reside a sabedoria.
Estar no poder é confortável, e é difícil abrir mão desse trunfo. As contradições que se seguem a querer o bem-estar e liberdade do filho mas, ao mesmo tempo, querer que precise dos pais, acabam levando estes a transitarem sempre de um extremo ao outro, algumas vezes respeitando demais a liberdade da criança, outras não o suficiente.
Como ressalta o filósofo Maurice Merleau-Ponty, há que se considerar ainda a pressão que fazemos pesar sobre a criança, que não é o que acreditamos que ela é, mas um reflexo do que queremos que ela seja, estando encarregada de realizar as esperanças não suas, mas de seus pais. E, desse modo, a criança nunca é respeitada, nem estimulada a ter autonomia, pois isso pressupõe que ela aja por si própria, pensando no melhor para si – e não no que quer que seus pais queiram.
Por isso é tão importante que, em nossas relações com a criança, saibamos separar pouco a pouco o que vem de nós e o que é dela, cuidando para não vê-las como uma extensão de nós, mas como elas são.
Não se deve respeitar todos os caprichos da criança, mas também não se pode considerar tudo como capricho. É preciso evitar que a conduta que se tem em relação à criança não seja ditada por situações antigas, ao invés de avaliar-se o presente. Não se podem admitir valores preestabelecidos antes de conhecermos a situação real da criança – estabelece-se o valor da própria situação, que emerge quando esta acontece.
Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém, como disse Paulo Freire. Isso significa que não se pode conquistar a autonomia pelo ou para o outro, esta só pode ser construída por ele mesmo. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos 25 anos. Nós vamos amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia é um processo, um vir a ser, e é por isso que as situações de decisão e responsabilidade devem ser estimuladas.
Estar no poder é confortável, e é difícil abrir mão desse trunfo. As contradições que se seguem a querer o bem-estar e liberdade do filho mas, ao mesmo tempo, querer que precise dos pais, acabam levando estes a transitarem sempre de um extremo ao outro, algumas vezes respeitando demais a liberdade da criança, outras não o suficiente.
Como ressalta o filósofo Maurice Merleau-Ponty, há que se considerar ainda a pressão que fazemos pesar sobre a criança, que não é o que acreditamos que ela é, mas um reflexo do que queremos que ela seja, estando encarregada de realizar as esperanças não suas, mas de seus pais. E, desse modo, a criança nunca é respeitada, nem estimulada a ter autonomia, pois isso pressupõe que ela aja por si própria, pensando no melhor para si – e não no que quer que seus pais queiram.
Por isso é tão importante que, em nossas relações com a criança, saibamos separar pouco a pouco o que vem de nós e o que é dela, cuidando para não vê-las como uma extensão de nós, mas como elas são.
Não se deve respeitar todos os caprichos da criança, mas também não se pode considerar tudo como capricho. É preciso evitar que a conduta que se tem em relação à criança não seja ditada por situações antigas, ao invés de avaliar-se o presente. Não se podem admitir valores preestabelecidos antes de conhecermos a situação real da criança – estabelece-se o valor da própria situação, que emerge quando esta acontece.
Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém, como disse Paulo Freire. Isso significa que não se pode conquistar a autonomia pelo ou para o outro, esta só pode ser construída por ele mesmo. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos 25 anos. Nós vamos amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia é um processo, um vir a ser, e é por isso que as situações de decisão e responsabilidade devem ser estimuladas.
Para se ter
liberdade, é fundamental que a criança assuma decisões. É preferível reforçar o
direito a decidir, mesmo não se acertando, ou não seguindo a decisão dos mais
velhos. Assumir as consequências do ato de decidir é um passo fundamental para
se adquirir
responsabilidade.
Estimular a
autonomia é, por exemplo, desafiar o filho a fazer escolhas desde pequeno, como
o melhor horário para fazer suas tarefas ou a melhor roupa para vestir, mas não
só isso. É importante falar aos filhos que sua participação nos processos
de decisão não é uma intromissão, mas um dever, pois é um meio de auxílio e
apoio, mas não se deve decidir por eles. É preciso que haja humildade para
aceitar o papel de auxiliar o filho, não mandar
nele.
Por fim, a história individual não é a única determinante de quem a criança será, como diz Merleau-Ponty. A história intra-individual – aprendizagem e internalização das regras sociais – e o meio em que está imediatamente inserido, além do mais abrangente contexto histórico–social, desempenham papel importante na formação do indivíduo.
Mas o
desenvolvimento da autonomia influencia todos os aspectos de sua vida, podendo
mudar o modo como ela encarará os fatos.
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