Um ser é altruísta quando se comporta de maneira a proporcionar o bem-estar de um semelhante, mesmo que isso implique em risco para si próprio. Ele proporciona o bem do próximo às suas próprias custas.
O comportamento egoísta é exatamente o comportamento contrário. Comumente, ele consiste simplesmente na recusa em compartilhar algum recurso valioso, como alimento, território ou parceiros sexuais. Mas há casos como o dos pingüins da Antártica que ficam hesitantes à beira d'água, com medo de mergulhar e serem comidos por focas. Se somente um deles mergulhasse, os outros ficariam sabendo se há uma foca ou não. Mas como nenhum deles quer ser a cobaia, eles tentam se empurrar para a água...
A seleção natural é o modo como a evolução funciona, através da sobrevivência do mais apto. Mas, quando falamos sobre os mais aptos, queremos dizer: indivíduos mais aptos, raças mais aptas, espécies mais aptas, ou o quê?
Tempos atrás, era comum o indivíduo de uma espécie ser considerado como uma peça a ser sacrificada quando o interesse da espécie como um todo exigisse. Na chamada “luta pela existência” - de Darwin -, um grupo (uma espécie ou uma população dentro de uma espécie) que possua membros altruístas - preparados para se sacrificar pelo bem-estar do grupo - poderá ter mais probabilidade de sobreviver do que um grupo rival cujos membros egoístas coloquem seus próprios interesses em primeiro lugar. Assim, o mundo passa a ter em maioria os grupos consistindo de indivíduos que se sacrificam pelo bem da espécie. Esta é a teoria da "seleção de grupo".
Mas essa teoria baseia-se na suposição - errônea - de que o importante na evolução é o bem da espécie e não o bem do indivíduo – ou do gene .
Essa idéia teve origem na Biologia basicamente porque grande parte da vida de um animal é dedicada à reprodução e a maioria dos atos de auto-sacrifício altruísta observados na natureza são realizados pelos pais para o bem de seus filhotes. A "perpetuação da espécie" é conseqüência da reprodução. A partir daí, e fácil deduzir que a "função" da reprodução é de “perpetuar a espécie”.
Uma razão para a teoria de seleção de grupo ser atrativa é que ela condiz com os ideais morais e políticos da maioria das pessoas, pois tendemos a reverenciar e admirar aqueles que colocam em primeiro lugar o bem-estar dos outros.
Além disso, o pensamento de que a própria espécie merece consideração moral especial em relação às outras espécies é antigo e profundo. Matar pessoas sem se estar em guerra é considerado o crime mais sério cometido, exceto quando se trata de comer pessoas. No entanto, comemos membros de outras espécies e é permitido que se atire em animais razoavelmente inofensivos, até como meio de recreação e diversão.
Um feto humano não possui mais sentimento do que uma ameba, mas tem respeito e proteção muito maiores do que um chimpanzé adulto que sente, pensa e – segundo experimentos – talvez possa até aprender uma forma de linguagem. Como o feto pertence a nossa espécie, são dados a ele privilégios e direitos especiais.
A dúvida de como o altruísmo é desejável na raça humana – entre família, nação, raça, espécie, seres vivos – se reflete numa confusão paralela na Biologia com relação ao nível no qual o altruísmo deve ser esperado segundo a teoria da seleção de grupo. Como seria decidido qual nível é importante (gêneros, ordens, classes, filos) ?
Os leões e os antílopes pertencem à classe Mammalia - como nós também.
Será que poderíamos supor ser possível os leões se deterem de matar antílopes, "para o bem dos mamíferos"?
A alternativa ortodoxa à teoria da “seleção de grupo” é normalmente chamada "seleção individual", mas eu vou utilizar o termo do etólogo Richard Dawkins, “seleção de gene” (usado por ele no livro “O Gene Egoísta”, do qual vários exemplos citados aqui foram retirados, bem como a idéia-base desse texto).
O que não foi levado em conta na teoria da seleção de grupo, é que pais e filhos têm algo mais importante em comum do que a espécie: os mesmo genes.
Parentes próximos têm uma probabilidade maior do que a média de compartilharem genes. Irmãos gêmeos têm 100% de probabilidade de compartilharem os mesmo genes; Pais e filhos, ou irmãos, têm 50% de probabilidade; Avôs e netos, têm 25% ; etc.
Desde há muito tempo tem estado claro que esta deve ser a razão para o altruísmo dos pais em relação a seus filhos ser tão comum : somos máquinas gênicas - formados por genes e tendo por função reproduzí-los. São seus genes que estão sendo preservados com a vida de seus filhos – e eles viverão mais que você.
Além do índice de parentesco, devemos levar em conta algo como um “índice de certeza".
Nós sabemos quem são nossos parentes porque nos dizem, porque sabemos os nomes, porque temos casamentos formais, registros escritos e boas memórias. Mas como os animais podem saber quem são seus parentes?
Embora a relação entre pais e filhos não seja geneticamente mais próxima do que a relação entre irmãos, sua certeza é maior. Normalmente é possível ter muito mais certeza sobre quem são seus filhos do que sobre quem são seus irmãos, pois os filhotes dependem dos pais e são reconhecidos por eles. E pode-se ter ainda mais certeza sobre quem você mesmo é! Por isso os animais poderão dar mais valor a si próprios do que a vários irmãos.
Só há realmente uma entidade cujo ponto de vista interessa na evolução, e esta entidade é o gene. O gene egoísta.
Os genes são replicadores inconscientes e cegos. O fato de se replicarem (contando com outras condições) significa que eles tenderão em direção à evolução de qualidades que os beneficiem - egoístas. Não se pode esperar que um replicador não tenha uma atitude egoísta a curto prazo, mesmo que fosse vantajoso a longo prazo para ele. Os genes não têm capacidade de previsão, apenas fazem o melhor para eles naquele exato momento.
É possível que uma qualidade única do homem seja a capacidade de altruísmo verdadeiro, desinteressado e genuíno. O homem é em sua formação – gênica - egoísta, mas nossa capacidade consciente de simular o futuro poderia nos salvar dos erros egoístas dos replicadores cegos.
Temos capacidade mental para promover nossos interesses a longo prazo e não simplesmente aqueles a curto prazo. Podemos ver os benefícios do altruísmo.
Podemos cultivar e estimular o altruísmo puro e verdadeiro que não ocorre na natureza.
Nascemos como máquinas gênicas e nos desenvolvemos como máquinas mêmicas (para entender melhor, ler o texto “Memética”, algumas postagens abaixo), mas temos o poder de nos revoltarmos, desafiando nossos criadores: os genes egoístas do nascimento e os memes egoístas da doutrinação.
O comportamento egoísta é exatamente o comportamento contrário. Comumente, ele consiste simplesmente na recusa em compartilhar algum recurso valioso, como alimento, território ou parceiros sexuais. Mas há casos como o dos pingüins da Antártica que ficam hesitantes à beira d'água, com medo de mergulhar e serem comidos por focas. Se somente um deles mergulhasse, os outros ficariam sabendo se há uma foca ou não. Mas como nenhum deles quer ser a cobaia, eles tentam se empurrar para a água...
A seleção natural é o modo como a evolução funciona, através da sobrevivência do mais apto. Mas, quando falamos sobre os mais aptos, queremos dizer: indivíduos mais aptos, raças mais aptas, espécies mais aptas, ou o quê?
Tempos atrás, era comum o indivíduo de uma espécie ser considerado como uma peça a ser sacrificada quando o interesse da espécie como um todo exigisse. Na chamada “luta pela existência” - de Darwin -, um grupo (uma espécie ou uma população dentro de uma espécie) que possua membros altruístas - preparados para se sacrificar pelo bem-estar do grupo - poderá ter mais probabilidade de sobreviver do que um grupo rival cujos membros egoístas coloquem seus próprios interesses em primeiro lugar. Assim, o mundo passa a ter em maioria os grupos consistindo de indivíduos que se sacrificam pelo bem da espécie. Esta é a teoria da "seleção de grupo".
Mas essa teoria baseia-se na suposição - errônea - de que o importante na evolução é o bem da espécie e não o bem do indivíduo – ou do gene .
Essa idéia teve origem na Biologia basicamente porque grande parte da vida de um animal é dedicada à reprodução e a maioria dos atos de auto-sacrifício altruísta observados na natureza são realizados pelos pais para o bem de seus filhotes. A "perpetuação da espécie" é conseqüência da reprodução. A partir daí, e fácil deduzir que a "função" da reprodução é de “perpetuar a espécie”.
Uma razão para a teoria de seleção de grupo ser atrativa é que ela condiz com os ideais morais e políticos da maioria das pessoas, pois tendemos a reverenciar e admirar aqueles que colocam em primeiro lugar o bem-estar dos outros.
Além disso, o pensamento de que a própria espécie merece consideração moral especial em relação às outras espécies é antigo e profundo. Matar pessoas sem se estar em guerra é considerado o crime mais sério cometido, exceto quando se trata de comer pessoas. No entanto, comemos membros de outras espécies e é permitido que se atire em animais razoavelmente inofensivos, até como meio de recreação e diversão.
Um feto humano não possui mais sentimento do que uma ameba, mas tem respeito e proteção muito maiores do que um chimpanzé adulto que sente, pensa e – segundo experimentos – talvez possa até aprender uma forma de linguagem. Como o feto pertence a nossa espécie, são dados a ele privilégios e direitos especiais.
A dúvida de como o altruísmo é desejável na raça humana – entre família, nação, raça, espécie, seres vivos – se reflete numa confusão paralela na Biologia com relação ao nível no qual o altruísmo deve ser esperado segundo a teoria da seleção de grupo. Como seria decidido qual nível é importante (gêneros, ordens, classes, filos) ?
Os leões e os antílopes pertencem à classe Mammalia - como nós também.
Será que poderíamos supor ser possível os leões se deterem de matar antílopes, "para o bem dos mamíferos"?
A alternativa ortodoxa à teoria da “seleção de grupo” é normalmente chamada "seleção individual", mas eu vou utilizar o termo do etólogo Richard Dawkins, “seleção de gene” (usado por ele no livro “O Gene Egoísta”, do qual vários exemplos citados aqui foram retirados, bem como a idéia-base desse texto).
O que não foi levado em conta na teoria da seleção de grupo, é que pais e filhos têm algo mais importante em comum do que a espécie: os mesmo genes.
Parentes próximos têm uma probabilidade maior do que a média de compartilharem genes. Irmãos gêmeos têm 100% de probabilidade de compartilharem os mesmo genes; Pais e filhos, ou irmãos, têm 50% de probabilidade; Avôs e netos, têm 25% ; etc.
Desde há muito tempo tem estado claro que esta deve ser a razão para o altruísmo dos pais em relação a seus filhos ser tão comum : somos máquinas gênicas - formados por genes e tendo por função reproduzí-los. São seus genes que estão sendo preservados com a vida de seus filhos – e eles viverão mais que você.
Além do índice de parentesco, devemos levar em conta algo como um “índice de certeza".
Nós sabemos quem são nossos parentes porque nos dizem, porque sabemos os nomes, porque temos casamentos formais, registros escritos e boas memórias. Mas como os animais podem saber quem são seus parentes?
Embora a relação entre pais e filhos não seja geneticamente mais próxima do que a relação entre irmãos, sua certeza é maior. Normalmente é possível ter muito mais certeza sobre quem são seus filhos do que sobre quem são seus irmãos, pois os filhotes dependem dos pais e são reconhecidos por eles. E pode-se ter ainda mais certeza sobre quem você mesmo é! Por isso os animais poderão dar mais valor a si próprios do que a vários irmãos.
Só há realmente uma entidade cujo ponto de vista interessa na evolução, e esta entidade é o gene. O gene egoísta.
Os genes são replicadores inconscientes e cegos. O fato de se replicarem (contando com outras condições) significa que eles tenderão em direção à evolução de qualidades que os beneficiem - egoístas. Não se pode esperar que um replicador não tenha uma atitude egoísta a curto prazo, mesmo que fosse vantajoso a longo prazo para ele. Os genes não têm capacidade de previsão, apenas fazem o melhor para eles naquele exato momento.
É possível que uma qualidade única do homem seja a capacidade de altruísmo verdadeiro, desinteressado e genuíno. O homem é em sua formação – gênica - egoísta, mas nossa capacidade consciente de simular o futuro poderia nos salvar dos erros egoístas dos replicadores cegos.
Temos capacidade mental para promover nossos interesses a longo prazo e não simplesmente aqueles a curto prazo. Podemos ver os benefícios do altruísmo.
Podemos cultivar e estimular o altruísmo puro e verdadeiro que não ocorre na natureza.
Nascemos como máquinas gênicas e nos desenvolvemos como máquinas mêmicas (para entender melhor, ler o texto “Memética”, algumas postagens abaixo), mas temos o poder de nos revoltarmos, desafiando nossos criadores: os genes egoístas do nascimento e os memes egoístas da doutrinação.
equilibrio é fundamental cara
ResponderExcluiressa relaçao antagonica entre egoismo e altruismo é o segredo da sobrevivencia da especie
de certa forma oq o gene egoista faz é correto,somos individuos movidos por interesses distintos que visa nossa sobrevivencia e com nosso gene nao é diferente
nao menos importante é nossa capacidade de controlar até certa parte esse egoismo,agindo por açoes altruistas quando preciso,nao podemos desmerecer a nossa consciencia de especie,precisamos preserva-la
tem esse lado tambem
eu aposto no equilibrio
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirInteressante o texto, mas devo deixar alguns apartes sobre algumas definições. Primeiro, a seleção natural não favorece o mais "apto" ou "adaptado", mas sim o mais adaptável! O indivíduo que tiver condições (fitness) mais propícias de se desenvolver e reproduzir-se sob as variáveis ambientais vigentes no seu ciclo de vida. Segundo, a teoria do gene "egoísta" não se aplica pois não considera fenômenos como as mutações espontâneas, crossing-over, inclusão de genes bacterianos e de vírus, que acabam por interferir grandemente na "manutenção" de genes através das gerações. Terceiro: O efeito altruístico ou egoístico dentro de uma população vai depender muito da qualidade de interações entre os indivíduos (sociais ou não), sugiro ler Maturana & Varela sobre isso.
ResponderExcluirInteressante o texto, mas devo deixar alguns apartes sobre algumas definições. Primeiro, a seleção natural não favorece o mais "apto" ou "adaptado", mas sim o mais adaptável! O indivíduo que tiver condições (fitness) mais propícias de se desenvolver e reproduzir-se sob as variáveis ambientais vigentes no seu ciclo de vida. Segundo, a teoria do gene "egoísta" não se aplica pois não considera fenômenos como as mutações espontâneas, crossing-over, inclusão de genes bacterianos e de vírus, que acabam por interferir grandemente na "manutenção" de genes através das gerações. Terceiro: O efeito altruístico ou egoístico dentro de uma população vai depender muito da qualidade de interações entre os indivíduos (sociais ou não), sugiro ler Maturana & Varela sobre isso.
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