MEMÉTICA

“Os memes agora se espalham ao redor do mundo, à velocidade da luz, e se reproduzem a taxas que fazem até mesmo a mosca de frutas e células de fermento glaciais em comparação. Eles saltam de veículo para veículo e de meio para meio. E estão provando ser virtualmente impossíveis de colocar em quarentena .”

                                                                 - Daniel Dennett

 Quase tudo o que faz um homem se diferenciar dos animais em geral pode ser resumido em uma palavra: cultura.

Há exemplos de evolução cultural nas aves e nos macacos, mas estas são apenas curiosidades. É a nossa própria espécie que mostra realmente o que a evolução cultural pode fazer. A linguagem, moda, cerimônias, costumes, arte, arquitetura, engenharia, tecnologia etc. Tudo isto evolui no tempo histórico de uma maneira que parece evolução genética altamente acelerada, mas que nada tem a ver com esta.

O termo “memes” – criado por Richard Dawkins – é análogo a “genes”, basicamente para referenciar a capacidade que ambos possuem de produzirem cópias de si mesmos – se replicarem -, por serem as unidades mínimas da mente (ou da memória) e da genética – respectivamente - e também por proporcionarem evoluções.

Basicamente, um meme, é uma unidade de informação que é passada culturalmente, se multiplicando de uma mente para outra, ou entre outros locais onde a informação é armazenada: como de livros ou sites a mentes.

Porém, os memes não são, de forma alguma, replicadores de alta fidelidade.

Cada vez que um cientista escuta uma idéia e a transmite para outra pessoa, ele provavelmente irá modificá-la bastante, reformulando-a para seus próprios propósitos, alterando a ênfase, misturando-a com suas próprias idéias e de outras pessoas. Os memes são transmitidos sob forma alterada. Diferentemente da qualidade particular de fidelidade na transmissão dos genes, a transmissão dos memes ocorre mediante a mutação contínua e também a mistura.

Uma criança humana aprende em poucos meses as essências do idioma de seu povo, tendo conhecimento de um grande número de palavras, muitas informações sobre as quais pode falar e de regras sintáticas e semânticas para ordenar a fala. Isso tudo é transferido de cérebros mais velhos ao dela antes que ela alcance metade de seu tamanho adulto.

Sem dúvida, não é nenhuma surpresa que cérebros de crianças sejam crédulos, abertos a quase qualquer sugestão, vulneráveis à subversão. Elas estão na idade de acreditar em tudo que você lhes disser.

Sendo “programadas” para absorver informação útil em grande velocidade, é difícil impedir, ao mesmo tempo, a entrada de informação perigosa ou prejudicial.

Se você disser que Papai Noel e a Fada do Dente existem, elas acreditarão em você. Se você disser que sapos se transformam em príncipes, elas acreditarão. Se você disser que existem bruxas, monstros embaixo de suas camas, ou que arderão no inferno se não forem boazinhas, elas terão pesadelos.

Como pacientes com deficiência imunológica, crianças estão amplamente abertas a infecções mentais.

Somos construídos como máquinas gênicas, ou seja, formados por genes e criados para transmitir nossos genes. Mas este nosso aspecto será esquecido em três gerações.

Seu filho, talvez até seu neto, poderão se assemelhar a você, mas, com a passagem de cada geração, a contribuição de seus genes será mínima. Alguns de nossos genes poderão ser imortais, mas a coleção de genes, que constitui cada um de nós, certamente se desintegrará.

Mas, se você contribui para a cultura mundial, tem uma boa idéia, compõe uma música, escreve um livro, ou simplesmente inventa algo, a idéia poderá sobreviver, intacta, por muito tempo após seus genes terem se dissolvido.

Darwin pode ter ou não ter genes vivos no mundo hoje, mas quem se importa com isso? Os memes de Platão, Copérnico, Darwin e muitos outros ainda prosperam.