Isaac Newton não
formulou uma teoria do ser, não se propôs a pensar a ética nem deu devida
importância a uma teoria do conhecimento ou à compreensão do homem. No entanto,
não é possível compreender a maior parte da reflexão filosófica do século XVIII,
e seu desenvolvimento até os dias de hoje, sem conhecer sua física e mecânica
celeste.
Sua principal
obra, Princípios Matemáticos da Filosofia
Natural, constitui um conhecimento que, ouso dizer, permeará no universo
humano por todo o sempre. A obra sintetiza as duas grandes correntes
metodológicas da ciência moderna, a matematização e a experiência, unindo e
superando o empirismo de Francis Bacon, isto é, que a comprovação científica
deveria ser feita pelos sentidos, e o racionalismo de Descartes, segundo o qual
um postulado só pode ser verdadeiro se deriva de uma verdade.
Galileu Galilei e
Johannes Kepler já haviam concebido a ideia de lei natural
em toda a sua amplitude, profundidade e significação metodológica, mas só a
aplicaram corretamente em alguns poucos fenômenos particulares, como o
movimento dos corpos em queda livre e as órbitas dos planetas. Mas ainda
faltava mostrar a legalidade rigorosa, encontrada nesses casos particulares,
que poderia ser estendida para todo o universo. A obra de Newton cumpriu esta
tarefa, iluminando o caminho a ser seguido pelas ciências da Natureza.
O sentido
profundo do trabalho de Newton foi compreendido e admirado em seu tempo por
pensadores, venerado por suas qualidades de grande investigador experimental e
a aliança definitiva que estabeleceu entre a experimentação e a matematização.
Immanuel Kant, o divisor de
águas entre o pensamento moderno e o contemporâneo, ao propor-se a analisar a
estrutura e os limites do conhecimento, tomou a física e a mecânica celeste,
elaboradas por Newton, como sendo a própria ciência.
Newton é o autor
mais claro, organizado e cuidadoso que já pude ler. Tudo me leva a conceber que
mais do que o conhecimento nos transmitido pelo mesmo, devemos aprender com
Newton o seu método de investigação. A escolha de cada termo elucidativo, cada
pausa em seu texto e a maneira clara, simples e cuidadosa com que trabalha
palavra a palavra mostra-nos a quantidade de dedicação provinda deste homem,
no seu pensar e construção dos conhecimentos. Em uma época
nada privilegiada para a edição de textos, cenário de toda a vida de Newton,
este nos faz refletir sobre quão importante é a minúcia, paciência e
concentração na construção de conhecimento. Todos estes detalhes, talvez tão
importantes quanto todo o resto, provavelmente proporcionaram a Newton certa
clareza e domínio sobre determinados conteúdos, digamos, invejáveis. Supostamente, esta é a característica essencial
de sua genialidade.
Como é sabido
que conhecimento é poder, Newton foi o homem mais poderoso de sua época. Entre
suas principais contribuições para a história da ciência estão: o teorema do
binômio e o método matemático das fluxões, que originaria o cálculo diferencial
e integrado, considerado a mais importante inovação da história da matemática
desde os gregos antigos.
O método das fluxões considera cada grandeza finita
como engendrada por um movimento ou fluxo contínuo, tornando possível calcular
áreas limitadas, totalmente ou parcialmente, por curvas, bem como os volumes de
figuras sólidas. Também desenvolveu uma teoria sobre a natureza corpuscular da
luz (Óptica), evidenciando através de descobertas experimentais que a luz
branca é constituída pela união das chamadas sete cores fundamentais do
espectro. Também investigou as primeiras ideias sobre a atração gravitacional,
a qual explica que a Lua mantém-se em órbita graças à força gravitacional.
Mas, sem dúvida
alguma, o desenvolvimento e sistematização da mecânica foi o seu maior feito,
descrito em Os Princípios Matemáticos da
Filosofia Natural, constituindo a primeira grande exposição e mais completa
sistematização da física moderna, sintetizando num todo único a mecânica de
Galileu e a astronomia de Kepler, e fornecendo os princípios e a metodologia da
pesquisa científica da Natureza.
Descrito por
Newton em sua obra, o método científico consiste em
“... fazer experimentos e observações, e em derivar
conclusões gerais das mesmas mediante indução, e em admitir objeções contra as
conclusões, exceto as que procedem de experimentos ou de certas outras
verdades”. “... assumir as causas descobertas e os princípios estabelecidos e,
por seu intermédio, explicar os fenômenos que procedem deles e demonstrar as
explicações.” (Newton, Issac; Princípios Matemáticos
da Filosofia Natural).
O núcleo central
de Princípios são as três leis
fundamentais da mecânica. A primeira afirma que “todo corpo permanece em seu estado de repouso, ou de movimento
uniforme em linha reta, a menos que seja obrigado a mudar de seu estado por
forças impressas nele”. A segunda lei estabelece que “a mudança do movimento é proporcional à força motriz e se faz
segundo a linha reta pela qual se imprime esta força.” Finalmente, a
terceira lei diz que “a uma ação sempre
se opõe uma reação igual, ou seja, as ações de dois corpos um sobre o outro são
sempre iguais e se dirigem a partes contrárias.” Tendo essas leis como
base, Newton propõe-se a demonstrar todos os demais fenômenos.
Tanto a
elucidação de cada termo utilizado quanto a criação de novos termos são uma
ferramenta trivial para o cientista.
Newton foi
eleito à presidência da Royal Society, uma das maiores academias de ciências
que visam o progresso do conhecimento da Natureza, onde desempenhou um papel
significativo até a sua morte. Nos últimos vinte anos de sua vida, Newton não
fez mais nenhuma contribuição significativa para a história da ciência,
dedicando-se a assuntos teológicos. Apesar disso, deve-se sublinhar que, na
investigação dos fenômenos físicos, o autor dos Princípios repele qualquer noção de ordem metafísica ou religiosa.
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